sexta-feira, 3 de abril de 2015

Damaris Calderón: Havana, 1966. A sua poesia parece derrubar todos os limites, ao transmitir, sem o menor alarde, uma experiência de intenso e infindável desenraizamento.

DOIS GIRASSÓIS SOBRE O ASFALTO


No terminal ferroviário
sentada com a minha mãe
dois girassóis sobre o asfalto.
A sua mão apaga toda a suja paisagem. Nunca comi senão
            dessa mão
nunca
senão desse fruto macerado.
Ensinavas-me um caminho para que não me perdesse.
E sempre regresso, pequeno afluente,
procurando um pouco de sossego
como ao enfermo se dá
uma colherada de sopa
e a colher faz frias,
metálicas promessas
até que a cabeça se detém
recostada contra o velador.
Uma larva cantando a um verme
-- a canção roída por dentro,
O talo resplandecente conectado ao tubo de oxigênio.
O mar, como um patrulheiro
pisando-me os calcanhares.
Talassa talassa

Tentei viver sete vezes.

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