quarta-feira, 16 de maio de 2012

Raúl González Tuñón, A LENDA NEGRA ENTERRADA SOB O VIADUTO MORTO

A Federico García Lorca


Funeral de madeiras carcomidas
Lua, municipal luz solitária,
E vasos de esquecidos não-me-esqueças,
E estátua florescida e palavrão.
Molesta, anão, criança e caveira
Santería, final, violento céu,
Dores de pedras, pranto de bonecas
E degolado sexo e podridão,
Gárgulas e tracoma e lodaçais
E intrusa luz fendida, luz madrasta.

Tudo que ver e que viver e tudo
Morto e vivo, já sangraram os espelhos
E rugem as colunas malferidas
Já uivam marquesinas e veludos
E chegam as Infantas enterradas
E abndonam seus óleos os senhores
Vagarosos mordomos sem cabeça
Iluminam relevos, corredores.

Um pó que arde de aranhas e ratões,
E despertos os círios e apagados,
E rios de silêncio, dos que rompem
Diques de solidão e tão calados.
E dentro de uma merenda de fantasmas
Lá fora uma mulher levando um peixe
E um menino empinando um papagaio.
E a aurora de açucena, e fuzilado.


Tradução: Thiago de Mello.

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