quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

HÁmor -- orelha de Adriana Guedes




A poesia é mesmo um modo de dizer as coisas e a vida de forma surpreendente. Há uma experimentação na linguagem poética que caminha na frequência do prazer, do trabalho e da criação. A poesia é sempre a palavra em estado de rebeldia, de insubmissão. São renovações provisórias, em permanente construção e desvio. 

Marco Plácido, em seu livro HÁmor, parte com suas experiências de dor e afeto na direção de um estado lírico que o explique/expulse da vida, das ruas, das esquinas. Para ele isso é pouco. Seu lirismo quer encontrar fantasmas, conversar com eles, aprender com eles. A palavra é sua única possibilidade de encontro, de restauração de memórias embaçadas pelo vivido e não vivido. Em estado catártico e ofegante, vai construindo seus poemas sem pontuação, sem respiração, trazendo velhos amigos, convidando novas palavras para fazerem parte de sua partilha poética. A leitura de seus poemas vai nos apresentando um cenário de natureza em estado inaugural, entre árvores, pássaros e sementes, em sensível sintonia com sua pureza de entrega poética e espiritual.

Manuel de Barros escreveu um poema que parece traduzir bem onde HÁmor de Marco Plácido se espraia:
A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
(De: Retrato do artista quando coisa)                           Adriana Bittencourt Guedes
                                                                                13/06/2013

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