A poesia é mesmo um modo de dizer as coisas e a vida de forma surpreendente.
Há uma experimentação na linguagem poética que caminha na frequência do prazer,
do trabalho e da criação. A poesia é sempre a palavra em estado de rebeldia, de
insubmissão. São renovações provisórias, em permanente construção e desvio.
Marco Plácido, em seu livro HÁmor, parte com suas experiências
de dor e afeto na direção de um estado lírico que o explique/expulse da vida,
das ruas, das esquinas. Para ele isso é pouco. Seu lirismo quer encontrar
fantasmas, conversar com eles, aprender com eles. A palavra é sua única
possibilidade de encontro, de restauração de memórias embaçadas pelo vivido e
não vivido. Em estado catártico e ofegante, vai construindo seus poemas sem
pontuação, sem respiração, trazendo velhos amigos, convidando novas palavras
para fazerem parte de sua partilha poética. A leitura de seus poemas vai nos
apresentando um cenário de natureza em estado inaugural, entre árvores,
pássaros e sementes, em sensível sintonia com sua pureza de entrega poética e
espiritual.
Manuel de Barros escreveu um poema que parece traduzir bem
onde HÁmor de Marco Plácido se espraia:
A maior
riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
(De: Retrato do artista
quando coisa) Adriana Bittencourt Guedes
13/06/2013
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