segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

365 dias com poesia, 31 de dezembro de 2014 -- oração III



oração III

A Angélica, Vinícius, Victor e Thiago

Alguns amigos não perguntaram, mas, acredito, gostariam de perguntar:
Por que poesia?
Nunca respondi, agora tentarei:
Porque a poesia é uma forma inteligente de ferir sem machucar
Acredito que todos precisemos de, de vez em quando, jogar um balde d’água na cara dos outros E tento nos poemas inventar o balde a água e a força nas mãos para jogá-la e acertá-la
Num mundo tão infectado pela noção de obter vantagem seja de que maneira for
Acho que a narrativa do crescimento da semente em flor já passa a ser um ato revolucionário (prova de que podemos nos revolucionar)
Mínimo, concordo, mas algum ato é melhor do que nenhum ou ficar invejando aqueles sujeitos que aparecem em programas de milionários que muitas vezes até são milionários, mas suam tanto o vazio de sua existência que funcionam mais como algo mal digerido que acaba ajudando a provocar a vontade de vomitar (e entre provocar e ser provocado prefiro a primeira...)
A poesia acaba sendo uma pequena muda de um mudo (não porque não fale, mas porque não querem escutá-lo) que escuta os barulhos do mundo e planta esperança num balde sujo num canto de varanda
E aquela semente acaba sendo a única esperança de proporcionar sombra algum dia...
Acaba sendo a única possibilidade agressiva de cantar num canto o espanto
Gritar como um punk que descobre que na manhã seguinte terá que enfrentar sua primeira fábrica e que se não estudar terminará seus dias rezando baixinho ao capeta por raiva daquele mundo que quis explodir e não teve coragem
A poesia muitas vezes equivale aos socos do MMA que quebram a mão do corajoso ou louco que sai testando sua aptidão desconhecendo que no fundo todos estão torcendo contra porque sua vitória seria na verdade um nocaute no paradigma de Platão e ninguém quer admitir que num pequeno poema há a possibilidade de tamanho colosso
Também como um osso para o cachorro a poesia é essencial para o poeta que não pode abrir mão da vida em sociedade porque já está arraigado às suas vantagens (ora aos poetas também cabem algumas vantagens!) e dessa pequena narrativa diária amenizar a insatisfação pessoal com o rumo que as coisas continuarão a seguir já que todos fingimos não ver escutar sentir
A verdade registrada como um vício num poema é que ajunta o poeta a si e afasta os leitores que se assustavam se assustam e se assustarão não com a diminuta quantidade de palavras mas com a intensidade das orações muitas vezes adivinhadas pois o poeta intuí mais do que sabe (faz orações mas muitas vezes não reza por não poder acreditar em outro poder criador maior do que o seu...)
Poderia continuar apresentando tantas razões poéticas quantas fossem possíveis rimar
Porém pretendo apenas afirmar que
A poesia é o cheiro do encontro do sujeito com seu sonho, sendo ela talvez mais do que qualquer outra nova metáfora apenas a vontade em palavras do poeta precisar sonhar...

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