quinta-feira, 12 de abril de 2012

Do livro POETAS QUE INTERESSAM MAIS

Muitos dos poemas desse livro (Lira de Líquen, de Nuno Júdice) são narrativas sobre as deambulações de sujeitos que se entregam a experiências de dissolução, loucura, e ao poder do imaginário. São histórias de excessos e desmedidas, de seres que enfrentam o silêncio, o vazio e a morte. Quero dizer que os sujeitos que transitam pelos poemas redescrevem o mundo como se sonhassem e de forma impressionista falam de sensações múltiplas e simultâneas, numa perspectiva interseccionista, optando pela fragmentação e pela impossibilidade da unidade, seja do sujeito, da paisagem, do poema ou da realidade. O chamado da poesia é um desafio frente ao concreto do mundo, uma luta no interior do ser, exigindo do poeta o despojamento de sua vida comum para se lançar numa travessia, qual Orfeu, em busca de outra margem, lugar do não nomeável. Nesse sentido, a poesia é um lago de Narciso, "segredo que oculto em mim persigo" (JÚDICE) , motivando esse desejo de conhecimento de si e da outra vida que na poesia existe e perdura. Também a multiplicidade de personagens que dizem eu no texto, encenando seus dramas nos cenários do poema, indica-nos a questão pessoana da alteridade. Há entre o escritor e o poeta a afirmação da ficção com diferentes personas, não apenas cifradas, mas também vindas de obras alheias, constituindo-se o jogo intertextual.

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