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Não há, sem dúvida, homem sensível que não tenha experimentado, em certo momento da vida, sobretudo na adolescência, esse sentimento de solidão absoluta, de vazio, de abandono, que faz com que o animal humano se sinta literalmente perdido num mundo povoado apenas por seres indiferentes e hostis. Uma tal experiência de solidão se me afigura mesmo necessária ao amadurecimento do homem: um enclausuramento indispensável para que se trave, no silêncio do indivíduo, o diálogo essencial entre a consciência e o ser, sem o qual nenhum conhecimento é possível. Acontece, porém, que a introversão do solitário pode levá-lo ao endeusamento do próprio "eu", à autoclontemplação narcisista, impedindo-o de se sentir participante de uma comunidade frente à qual tem deveres e obrigações e através da qual há de se consumar o seu destino temporal.
A solidão é o fruto capaz de envenenar o homem que o prove sem dispor do antítodo da humildade. O fascista é um envenenado: o orgulho converte a sua solidão em algo de inumano e monstruoso, fazendo dela a substância de seu ódio e do seu ressentimento. O homem humilde, ao contrário, supera a solidão graças ao amor, que é essencialmente correspondência e comunhão.
Aquele momento em que todas as ligações com os próprios semelhates parecem definitivamente rompidas; aquele momento de incompreensões, de rupturas e de choques com o próximo, com os próprios pais tantas vezes; aquele momento em que a vida interior surge como o único refúgio possível, embora encerre muitas vezes o desespero, é decisivo para a formação do indivíduo. Dele, poderá sair místico, que vença a solidão pela participação do divino, um fascista, que nela cultive a suficiência, a prepotência e o orgulho, ou um homem íntegro, ao mesmo tempo consciente de si mesmo e contemplado pelo vínculo da solidariedade humana e pelo sentimento do mundo).
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