domingo, 29 de abril de 2012

Wallace Stevens, Martial Cadenza

CADÊNCIA DE MARTE

I

Só esta noite vi de novo, baixa, no céu
A estrela da tarde, no princípio do Inverno, a estrela
Que na Primavera coroará todo o horizonte a oeste,
De novo...como se voltasse, como se a vida voltasse,
Nãonum futuro filho, numa outra filha, noutro lugar,
Mas como se a noite nos encontrasse jovens, jovens ainda,
Ainda caminhando no nosso próprio presente.

II

Foi como um rápido tempo num mundo sem tempo,
Este mundo, este lugar, a rua na qual estava,
Sem tempo: como não tem tempo aquilo que não é:
Não é, ou é feito daquilo que foi, cheio
Do silêncio anterior aos exércitos, os exércitos sem
Trombetas ou tambores, os comandantes mudos, as armas
Por terra, fixadamente imóveis, numa profunda derrota.

III

Que tinha essa estrela a ver com o mundo que iluminava,
Com o vazio dos céus sobre a Inglaterra, sobre a França
E sobre os acampamentos alemães? Parecia estar alheia.
E, no entanto, é isto que permanecerá -- ela própria
É tempo, alheio a qualquer passado, alheio a
Qualquer futuro, o sr que sempre é
O que sempre respira e mexe, o fogo permanete,

IV

O presente próximo, o presente realizado,
Não o símbolo mas aquilo por que o símbolo está,
A coisa, viva no ar, que nunca se transforma
Se bem que o ar se transforme. Só esta noite eu a vi de novo,
No princípio do Inverno, e de novo eu caminhei e
Conversei, e de novo fui, e de novo respirei
E de novo me movi e de novo cintilei, o tempo de novo cintilou.


Tradução: Maria Andresen de Sousa.

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