terça-feira, 7 de setembro de 2010

POEMA SUJO 2

Mais um trecho do livro que consagrou o poeta maranhense, mestre Gullar:

"...Daí por que na Baixinha
há duas noites metidas uma na outra:a noite
sub-urbana (sem água
encanada) que se dissipa com o sol
e a noite sub-humana
da lama
que fica
ao longo do dia
estendida
como graxa
por quilômetros de mangue
a noite alta
do sono (quando
os operários sonham)
e a noite baixa
do lodo embaixo da casa

noite metida na outra
como a língua na boca
eu diria
como uma gaveta de armário
metida no armário (mas
embaixo: o membro na vagina)
ou como roupas pretas
sem uso dentro da gaveta
ou como uma coisa suja
(uma culpa)
dentro de uma pessoa
enfim como
uma gaveta de lama
dentro de um armário de lama,
assim
talvez fosse a vida na Baixinha...".

Abraços, Marco.

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