Especialistas falam da importância de pacientes assuimirem que são doentes terminais
O texto publicado anteontem pelo neurocientista e escritor Oliver Sacks, em que revelou estar com um câncer terminal. chamou a atenção para um paradoxo vital e mortal: a obviedade de que a morte é inevitável frente à dificuldade de aceitação de sua proximidade. Em seu artigo no "New York Times", Sacks jogou luz sobre o fim do túnel, dizendo como pretendia aproveitar seus últimos meses de uma vidade 81 anos, após a constatação de que estava com um terço do fígado tomado por metástases. Médicos e especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliaram a importância de figuras públicas assumirem que são doentes terminais como forma de desmistificar o desejo pela imortalidade.
Citando os livros de Sacks "Tempo de despertar" e "O homem que confundiu sua mulher com um chapéu", o clínico geral e intensivista Fábio Miranda diferencia a perspectiva brasileira da internacional em relação à aceitação da morte. Coordenador do CTI do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, Miranda diz que, enquanto nos EUA os médicos são obrigados a contar a verdade ao paciente, no Brasil, muitas vezes a família prefere escondê-la:
-- O que lemos em artigos científicos e vemos em congressos internacionais é que essa aceitação é mais comum no exterior. Aqui, é muito difícil. O artigo de Sacks é importante porque, geralmente, as pessoas preferem a negação da morte. Algumas reagem a isso tentando encontrar um bode expiatório, um culpado. Isso causa revolta e implica brigas familiares, com os médicos ou pessoas que tentam ajudar. (...)
(...)
Diretor do CTI do Hospital São Vicente de Paulo, o médico Guilherme Ribeiro Aguiar ressalta que o assunto no Brasil ainda é um tabu e que, frequentemente, a família tenta esconder a proximidade da morte do paciente, às vezes até prolongando o sofrimento em casos de câncer terminal.
-- Essa discussão é muito importante, mas ianda está atrasada no Brasil. O alerta do doutor Sacks é muito bem-vindo. Frequentemente, são mantidos tratamentos que poderiam ser classificados como "fúteis", já sem objetivo de cura, quando seria mais indicado um tratamento paliativo para melhorar a qualidade de vida no final dela -- diz Aguiar.
Steve Jobs, fundador da Apple,lamentou certa vez ter optado por vários tratamentos alternativos para tentar se curar de um câncer no pâncreas, detectado em 2004,. No ano seguinte, após fazer uma cirurgia, ele disse que "a morte era provavelmente a melhor invenção da vida", em um discurso na Universidade de Stanford: "Seu tempo é limitado, então, não gaste vivendo a vida de outra pessoa" (grifei).
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