segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Bertolt Brecht, poema: POEMAS DA COLEÇÃO DE MARGARETE STEFFIN




Isso é tudo e não muito, bem sei.
É só para lhes dizer que ainda vivo.
Como alguém que um tijolo levasse consigo.
Para mostrar como foi sua casa uma vez.


PRIMAVERA DE 1938

1

Hoje, domingo de Páscoa
Uma tempestade de neve atingiu a ilha.
Entre as sebes verdejantes havia neve. Meu filho pequeno
Levou-me a um pé de damasco junto ao muro
Afastando-me de um poema em que apontava com o dedo aqueles
Que preparam uma guerra que
Aniquilaria este continente, esta ilha, meu povo, minha família
E eu. Em silêncio
Colocamos um saco
Sobre a árvore com frio.

2

Sobre a baía pendem nuvens de chuva, mas o sol
Ainda doura o jardim. As pereiras
Têm folhas verdes e ainda nenhum broto, e as cerejeiras
Brotos e ainda nenhuma folha. As umbelas brancas
Parecem rebentar de galhos secos.
Pelas águas encrespadas da baía
Corre um pequeno barco de vela remendada.
Ao gorjeio dos estorninhos
Mistura-se o trovão distante
Dos canhões dos navios
Do terceiro Reich.

3

Nos salgueiros à margem da baía
A coruja chama com freqüência, nessas noites de primavera.
Conforme a superstição dos camponeses
A coruja informa aos homens
Que não viverão muito. A mim
Que tenho consciência de haver dito a verdade
Sobre os dominadores, nenhum pássaro da morte

Precisa informar sobre isto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário