terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Bertolt Brecht, poema: PARADA DO VELHO NOVO



Eu estava sobre uma colina e vi o Velho se aproximando, mas ele vinha
como se fosse o Novo.
Ele se arrastava em novas muletas, que ninguém antes havia visto, e exalava
novos odores de putrefação, que ninguém antes havia cheirado.
A pedra passou rolando como a mais nova invenção, e os gritos dos gorilas
batendo no peito deveriam ser as novas composições.
Em toda parte viam-se túmulos abertos vazios, enquanto o Novo movia-
-se em direção à capital.
E em torno estavam aqueles que instilavam horror e gritavam. Aí vem o
Novo, tudo é novo, saúdem o Novo, sejam novos como nós! E quem
escutava, ouvia apenas os seus gritos, mas quem olhava, via pessoas que
não gritavam.
Assim marchou o Velho, travestido de Novo, mas em cortejo triunfal
levava consigo o Novo e o exibia como Velho.
O Novo ia preso em ferros e coberto de trapos; estes permitiam ver o vigor
de seus membros.
E o cortejo movia-se na noite, mas o que viram como a luz da aurora era
a luz de fogos no céu. E o grito: Aí vem o Novo, tudo é novo, saúdem o
Novo, sejam novos como nós! Seria ainda audível, não tivesse o trovão

das armas sobrepujado tudo.

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