segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Bertolt Brecht, poema: O APARELHO DE PESCA




Em meu quarto, na parede caiada
Há uma curta vara de bambu, ligada
A um gancho de ferro, para
Retirar redes da água. A vara
Apareceu numa loja de coisas velhas, “downtown”. Ganhei-a
De meu filho no aniversário. Está gasta.
Na água salgada a ferrugem do gancho corroeu o cordão.
Esses indícios de uso e de trabalho
Emprestam-lhe grande dignidade. Gosto
De pensar que esse aparelho de pesca
Foi-me deixado por aqueles pescadores japoneses
Que foram banidos da Costa Oeste, confinados em campos
Como estrangeiros suspeitos: que me chegou às mãos
Para lembrar-me tantas
Questões humanas não solucionadas
Não insolúveis, porém.

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