domingo, 1 de fevereiro de 2015

Bertolt Brecht, poema: VISÃO NO BRANCO



  1. À noite acordo banhado em suor com uma tosse que me aperta a garganta. Meu quarto é muito pequeno. Está cheio de arcanjos.
2 . Eu sei: amei demais. Enchi corpos demais, usei muitos céus cor de laranja. Devo ser exterminado.
3. Os corpos brancos, os mais brancos entre eles, roubaram-me o calor, afastaram-se gordos de mim. Agora sinto frio. Cobrem-me com muitas camas, eu sufoco.
4. Desconfio que vão querer me fumigar com incenso. Meu quarto está inundado de água benta. Eles dizem que eu sofro de gota – de água benta. E isso é mortal.
5. Minhas amadas me trazem um pouco de sal nas mãos que eu beijei. Chega a conta dos céus laranja, dos corpos e do resto. Não posso pagar.

6. Melhor morrer, -- Eu me reclino. Fecho os olhos. Os arcanjos aplaudem.

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