"O que move a mão do descrente? Amar com gesto de planta e montanha, agarrar a rocha, estender a mão ao raio e, coração aceso, repousar no colo das meninas. Caminhar pelo deserto povoado de audácias e erros. Caminhar sem tréguas, sem esquecimento, de pólvora moldado, e constuir, nas artes da colagem, a alucinada humana essência.
Tudo é carne viva, e por isso Jorge Wanderley nos traz agora esse Bukowski, bebedor do mesmo ácido sombrio, habitante das sombras por afinidade, sem qualquer traição. Antes morrer todos os dias. Antes palavras ásperas, tropeços, pileques patéticos e trágicos e tanta morte nesses mergulhos -- adiamentos. Buracos sombrios e mutilação, anestesias que não permitem esquecer a revolta com o imperfeito em cada altura, mesmo com a salvação disponível no pomar das palavras. Dessa obra de carne tantas vezes morta, tantas vezes aviltada, a alma de Jorge Wanderley dá sinal, agente infiltrado, escolhido pelos deuses para louvar a poesia, como se dissesse: estou de novo aqui, como sempre estive, vivendo ainda, o mesmo rigor nessa virtude, a mesma adoração da juventude, do tempo do Gráfico Amador.".
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