terça-feira, 1 de setembro de 2015

Graciliano Ramos, Vidas Secas. Marco Plácido, Poema:Inverno (7)

Inverno

Trovão, barulho do rio
Goteiras pingavam
O vento do frio sacudia os ramos das catingueiras
O fogo dava calor e luz
Que clareava vagamente
Os pés do vaqueiro, da mulher e dos meninos

O mais velho viu que o pai tinha o coração na goela
Ao escapar de um braço
Por interrompê-lo

Forte era a chuva que caía
Fabiano de bom humor
Contava façanhas e
Pensava :
Se a seca chegasse
Coseria o soldado amarelo a facadas
Depois o juiz, o promotor e o delegado
Numa briga imaginária fez e aconteceu

O mais novo batia palmas
O mais velho desconfiou
A história se modificara
Fabiano deveria ter repetido as palavras
Ao mudá-las mudou
Tudo
Estava mudado

Chovia muito, o dia inteiro
(Baleia precisava dormir e
Livrar-se das pulgas e

Daquela vigilância a que a tinham habituado...)

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