sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Manoel de Barros, sobre o livro "Poesias"

A VOZ DE MEU PAI

Sou um sujeito magro
Nas ci magro.
Estou nos acontecimentosComo num vendaval: dobrado
Recurvo de espanto
E verdes...

Círculo sob arranha-céus.
Vivo debaixo de cubos:
Na direita, na esquerda
De lado, ao sul
Pelo norte...Vou no meio assustado.
Um pequenino ser com a sua morte dentro,
Com seu ombro desabado
E seus braços descidos pelo caos do corpo.

Sou ligado por cordões e outros aparelhos secretos a
um escritório complicado.
Portas mecânicas me subtraem e me devolvem súbito
ao negro asfalto.
Entro e saio do edifício que come meu rosto e o cunha na pedra.
Varo becos, bancos e buzinas.

À noite, porém (ócidade tentacular!)
Me rendo.
Resfolegante como um boi, paro.
Vasta campina azul de água me olha, me contempla,
me aglutina
E suja-me de iodo a roupa...
-- É o mar!
Meu rosto recebe a brisa do mar.

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