quarta-feira, 1 de junho de 2011

CARLOS NEJAR (4)

"Nesse romance (A Engenhosa Letícia do Pontal), para a glória do gênero poético, são as palavras e as máximas filosóficas, mais do que as ações e o próprio enredo, o fundamento do universo metafórico e poético de Carlos Nejar. A ideia racional, que tangencia o delírio narrativo, rompe o pacto com o verossímil -- como ocorre com o Teatro do Absurdo -- perpassando para o real como se o fito fosse unicamente dar provas de que a sombra de uma nuvem não é a nuvem propriamente dita, mas o reflexo de uma luz superior -- a poesia -- que se derrama e se projeta de outra forma no solo narrativo, resultando numa imagem ampliada da arte, arte que não pode ser retocada com as mãos, mas pode ser admirada e sentida num simples golpe de vista. Apesar disso, o leitor terá de superar o obstáculo da lógica para penetrar numa realidade ficcional em que as palavras ecoam como se fossem atributos essenciais à vida, tal como ocorre com a experiência filosófica de Carlos Nejar. Que nos coloca diante de reflexões, as quais, com frequência, determinam o nosso destino sob o duro chão.".

(parte de análise crítica de Ruy Câmara, poeta, dramaturgo e sociólogo, no livro Carlos Nejar, Poeta da Condição Humana).

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