terça-feira, 21 de junho de 2011

CARLOS NEJAR (7) -- poema

TESTAMENTO VERDE

Para Carla Carpi Nejar


Tudo o que é humano
sabe a espelho. A luz real
apenas reflete. O nosso
nome é igual, sou tão precário
mas sabes que te amo.
Perece o sonho, se não
o regamos. A chuva
é o instante de ser nuvem.
E me fui despindo
dos adornos, dos taciturnos
ódios. Os meus puídos anos,
com os sapatos. O patrimônio
de palavras e cuidados. Talvez
o patrimônio de silêncio.
E que a inteligência seja flecha,
mas saiba repousar. Impávido
ou adverso, em nós se funde
o tempo e o universo
é um sigilo, um informe secreto.

E quando venta, estou perto,
percebes. A lei morre
em seu peso. A dor
se esgota. è no simples
que as coisas são completas
E, filha, importa
resistir sob o pavio dos ossos
Refazer a vida, tantas vezes,
quanto a vida doer.

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