quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

MIGUEL GULLANDER,em Perdido de volta (8)

"...Tudo o que me seduz é só uma imagem. Um só fragmento que paira entre as folhas e o vento, nas sombras da parede. O sopro que corre nas cortinas, e toda a minha alegria, tudo o que sou se resume a esse flash, essa beleza condensada, captada numa só imagem.
O halo de luz está em volta de um candeeiro de névoa, numa noite prematura, onde o sol é um cristal de sal branco de encontro a um horizonte azul, com o mar ao fundo, no norte das descobertas, e no sul de mim mesmo. Uma tempestade de partículas de água invisível rodopia o farol do candeeiro, dança uma figura ígnea -- e as gotículas vindas da barra queimam, mordem a carne do rosto -- ou sudário, impresso na fina película do meu desejo, dessa Cidade das Mil Ondas. A Praia da Luz Negra, uma república de justiça, o lugar onde executas ondas com o próprio corpo. Queria estar lá.
Palco após palco, de empregos e missões, quem representa todas as tragédias, todos estes "meus" papéis -- em quantas diferentes dimensões fui diferente, alienígena? estrangeiro a tudo, procurando uma república da qual somos todos legítimos cidadãos?".

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