quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Eduardo Lizalde, SAMURAI

Sem que o tigre me advirta
logro entrar em casa.
A fera dorme:
eludo o charco de sua baba negra.
Em meu sigilo, sou invisível quase;
descalcei-me, inclusive,
das plantas dos pés
junto ao umbral.
A jiboia construída em aros de compacto silêncio,
a jararaca de vidro lubrificado,
são, junto a mim, o estrondo.

Mas o tigre adivinha.
Como na selva isolada de estertores constantes,
de ruídos automáticos,
os olhos de suas vítimas
olham por ele quando dorme:
  descobriu minha presença
  na intranquilidade traidore e cantante
  do canário.

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