quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Eduardo Lizalde, GRANDE É O ÓDIO

1.


Grande e dourado, amigos, é o ódio.
Tudo o que é grande e dourado
vem do ódio.
O tempo é o ódio.


Diz\em que Deus se odiava em ato,
que se odiava com a força
dos infinitos leões azuis
do cosmos;
que se odiava
para existir.


Nasce, do ódio, mundos,
óleos perfeitíssimos, revoluções,
tabacos excelentes.
Quando alguém sonha que nos odeia, somente,
dentro do sonho de uma pessoa que nos ama,
já vivemos no ódio perfeito.


Ninguém vacila, como no amor,
na hora do ódio.


O ódio é a única prova indubitável
da existência.


2.


E o medo é uma coisa grande como o ódio.
O medo faz existir a tarântula,
torna-a digna de respeito,
embeleza-a em sua desgraça,
cancela seus horrores.


O que seria da tarântula, pobre,
flor zoológica e triste,
se não pudesse ser esse tremendo
manancial de medo,
esse punho cortado
de um símio negro que enlouquece de amor.


A tarântula, oh Becquer,
que vive enamorada
de uma tensa magnólia.
Dizem que mata às vezes,
que descarrega suas iras em coelhos adormecidos.
  É certo,
mas morde e descarrega suas tinturas internas
contra outro,
porque não consegue morder seus próprios membros,
e parece-lhe que o corpo daquele que passa,
aquele que amaria se soubesse,
é o seu.

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