segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eduardo Lizalde, CARTA URGENTE AO CRIADOR DO UNIVERSO

Para don Sergio Méndez Arceo

Afortunadamente, Deus,
afortunadamente para ti,
não existes.
Se tu houvesses misturado neste horrendo assunto,
se existisses.
Grande era o risco:
teriam te julgado em Nüremberg
como criminoso de guerra,
com outras inocentes e alemãs
criaturinhas tuas
e como o principal entre os delinquentes, o lobo entre os lobos.
Somente o papa Pio XII
(sempre tão piedoso como seu apelativo)
confabulando ternamente com os nazis,,
por puríssima bondade seguramente,
e docemente aliado com as piores causas,
teria te defendido.
Que coisas terias passado!
terias -- estou intimamente persuadido --,
abjurado
da filosofia tomista
e ostentado
tua caderneta do partido comunista antes oculta,
e terias criado em Auschwitz
uma suntuosa câmara de gás,
com outra cruz no meio,
para autoexecutar-te
e autocrucificar-te sozinho frente ao mundo
com tua estrela infamante de judeu
pendurada no pescoço.


Que reprise do Gólgora, meu Deus!


Que encerramento para o Novo Testamento!


É somente um belo sonho,
mas de boa vontade
eu teria posto o punho e o polegar para baixo
em tua presença,
porque, mesmo sem existir,
tu és o verdadeiro responsável,
e exatamente por isso
-- creio que o disse algum russo -,
porque tu cometeste a vileza espantosa
de não existir,
tudo está permitido.

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