terça-feira, 20 de novembro de 2012

Olga Bierggólts, ANTES DA SEPARAÇÃO

Antes de partir, deixo-te tudo:
tudo o que há de melhor
                                        em cada ano transcorrido.
Toda a tua ternura passada,
                                             toda a fidelidade passada:
a ti, militar e terrível,
                                juro amor novamente, de joelhos
e, depois, levantando-me, digo-te adeus.
Nunca mais teremos, tu e eu,
esta ventura que nos eletrizou.
Mas guardarei para sempre, na minha
mais bela canção, a lembrança desta bandeira esfarrapada...
Deixo-te também a minha andorinha
que, após a viagem, teve a coragem de voltar,
furando o bloqueio, para o nosso lar miserável.
Nos momentos de solidão,
              tu a escutarás...
Levo comigo todas as nossas lágrmas,
todas as nossas privações,
              fracassos,
perigos,
todos os nossos desesperos,
              nossas decisões apressadas,
nossas dificuldades, nossa grande maturidade
e a canção de ninar que nunca foi cantada
-- sonhávamos com ela, tu te lembras?,
nas noites de guerra e de tempestade.
Nunca mais escutarás essa canção invisível.
Guardo-a dentro de mim, intacta...
Adeus querido. Amei-te com todas as forças.
E no momento da partilha, quero deixar-te rico.

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