terça-feira, 20 de novembro de 2012

Arsênyi Tarkóvski, VIDA, VIDA

1

Não acredito em presságios nem temo
Os pressentimentos. Não fujo nem da calúnia
Nem do veneno. A morte não existe.
Todos são imortais. Tudo Também.
Não há sentido em temer a morte aos sete,
Ou aos setenta. Só há aqui e agora, e a luz;
Nem morte, nem escuridão esxistem.
Já estamos todos à beira-mar;
E eu sou um desses que vasculham as redes
Quando um cardume de imortalidade passa nadando.



2

Se moras numa casa -- a casa não há de desmoronar.
Convocarei qualquer um dos séculos
E, depois, entrarei nele e, ali, construirei uma casa.
É por isso que os seus filhos e as suas mulheres
Sentam-se comigo em uma mesa,
A mesma para os ancestrais e os netos:
O futuro está sendo realizado agora,
Se ergo um pouco a mão,
Os cinco raios de Luz permanecem contigo.
A cada dia usei uma clvícula
Para ecorar o passado, como se fosse madeira,
Medi o tempo com cadeiras geodésicas
E marchei através dele, como se fossem os Urais.



3

Cortei o século na medida para servir em mim.
Andamos para o sul, levantando poeira acima da estepe;
As altas ervas daninhas fumegavam; o gafanhoto dançava
Tocando com as suas antenas a ferradura -- e profetizava,
Ameaçando-me com a destruição, como um monge.
Amarreia à sela o meu destino;
E mesmo assim, nesses tempos que aí vem,
Fico em pé no estribo como uma criança.
estou satisfeito com a ausência da morte,
Para que o meu sangue possa fluir de uma era para a outra.
E, no entanto, por um cantinho em cujo calor eu possa confiar,
Eu estaria disposto a dar minha vida,
Cada vez que a sua agulha voadora
Puxava-me, como uma linha, à volta do globo.

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