sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ievguêni Ievtushênko, VERLAINE

O guia cita Verlaine
mostrando Paris com um gesto eloquente.
Sua voz vibra emocionada, enternecida,
sob a chuvinha que de leve se esfarela,
e as estrofes sussurram sua água estrelada...
"Que música agradável,
não é, moço?!..."
Balanço a cabeça:
"É...agradável..."
Paris tm má memória.
Hoje em dia, é Deus em pessoa quem exige
que todo bom burguês possua o seu Verlaine,
encadernado e impresso em papel-bíblia.
Agradável, não é?!
Pois eu guardo para vocês
um cantinho de memória
-- onde, diabos, foi parar a de vocês?
Outrora, esse tal de Verlaine não passava
de uma pedra no sapato!
Quem te viu e quem te vê!
Sua figura não encaixava
em suas frases falsamente piedosas.
Por sua fraqueza diante de um copo
foi sempre tido e havido como um imoral.
Não estou exagerando, estou?
Olha só a careta que eles fazem...
Agradável?
Vocês o mataram, de morte lenta,
com isso tudo, meus caros senhores;
vibraram-lhe -- e pelas costas --
um golpe mortal, feito de sarcasmo e de maledicência,
de tudo com que se constrói a sua moral
e que reduz a cinzas todas as outras formas de vida.
Agradável...
acontecem coisas, neste mundo!
É com melancolia que eu penso
que às vezes matam os poetas
só para poderem citá-los mais tarde.

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