quarta-feira, 15 de agosto de 2012

María Mercedes Carranza, BORGIANA

Quero pensar neste ancião
                   os olhos cegos, lentos os lábios
o desprezo no vazio rodto duro.
Achou a palavra única
                   que resume todo o universo.
Mas a eternidade de nada lhe vale.
Sozinho, no aposento da velha casa,
terco faz de novo memória do seu sonho,
inventa com voz que soa a metal e a lágrima
a batalha em que gostaria de ter morrido
e se diz que deseja cumprir outro destino:
não o das palavras num papel,
                  não Cervantes, mas Alonso Quijano.
Com a memória mira
os rostos imaginários de seus antepassados.
Como o seu avô, o coronel Suarez,
gostaria de ter caído em Junin sob as lanças
ou como Francisco Borges no alto de um cavalo
                 detendo as balas com o peito.
Se tão só se lhe houvesse permitido
usar por uma vez o punhal de Muraña    
para saborear a coragem de matar ou ser morto.
Na sala da velha casa, derrotado
se resigna fatalmente à sabedoria.

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