domingo, 5 de junho de 2016

Giacometti, CÓPIAS DE OBRAS FAMOSAS -- Paris, 18 de outubro de 1965

Impossível concentrar-me no que quer que seja, o mar invade tudo, para mim ele não tem nome apesar de hoje ser chamado de Atlântico. Durante milhões de anos, ele não tinha nome e um dia não terá mais nome, sem fim, cego, selvagem como é hoje para mim. Como falar aqui de cópias de obras de arte? -- obras efêmeras e frágeis que existem aqui ou ali nos continentes, obras de arte que se desfazem, que definham, que se deterioram dia após dia, muitas delas, e entre as que prefiro, já estavam sepultadas, soterradas pela areia, pela terra, pelas pedras e todas seguem o mesmo caminho. e todas aquelas que um dia me emocionaram tanto e que hoje olho quase com indiferença e se tornaram pálidas e vazias na minha memória. Quase todas imagens precárias, fracas, pretensiosas que, bem ou mal, posso dispensar; mas ao mesmo tempo surgem todas as obras emocionantes e maravilhosas que existem, inumeráveis. Mas muitas vezes essas mesmas são apenas testemunhas das mais duras, obscuras e intoleráveis civilizações pelas quais tenho mais horror.

Na realidade, já não sei o que pensar do que quer que seja e, além disso, cada palavra que escrevo é apenas a expressão da minha vaidade, da minha pretensão, da minha hipocrisia, sim, do meu prazer de brilhar e de surpreender, "qualidades" essas que eu já ostentava aos doze anos de idade. Felizmente, houve depois um período muito longo de calmaria, na verdade até quase os últimos anos, mas agora sou aquele que era aos doze anos, não, não totalmente, tenho feito enorme progresso, agora só avanço dando as costas para o alvo, só faço desfazendo.

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