terça-feira, 1 de julho de 2014

Ferreira Gullar, ARTE POÉTICA



ARTE POÉTICA

Não quero morrer não quero
apodrecer no poema


Que o cadáver de minhas tardes
não venha feder em tua manhã feliz

                 e o lume
que tua boca acenda acaso das palavras
-- ainda que nascido da morte –
             some-se
             aos outros fogos do dia
aos barulhos da casa e da avenida
             no presente veloz

Nada que se pareça
a pássaro empalhado múmia
de flor
dentro do livro
                e o que da noite volte
volte em chamas
              ou em chaga
              vertiginosamente como o jasmim
que num lampejo só
ilumina a cidade inteira


Ferreira Gullar

Nenhum comentário:

Postar um comentário