terça-feira, 4 de setembro de 2012

César Calvo, NOTURNO DE VERMONT

Contaram-me também que lá as noites
têm olhos azuis
e lavam seus cabelos com genebra.

É verdade que em Vermont quando sonhas
o silêncio é uma brisa de jazz por sobre a relva?

É verdade que em Vermont os gerânios
inclinam-se ao crepúsculo,
e em tua voz, na hora de meu nome,
em tua voz, tristezas?

Ou talvez, em vermont enfeitada de outono
beijada a cada tarde por um idioma pálido
submerges a cabeça no esquecimento.
Porque, diariamente, em barcos de neve,
não me chegam
tuas cartas.
E como o prisioneiro que segura
com sua longínqua fronte
as estrelas:
chamuscadas as mãos, diariamente
te busco entre a neve.
Nem o galope do mar, atrás ficaram
imóveis seus cascos de diamante na areia.

Porém, um vento mais belo
amanhece em meu quarto,
um vento mais carregado de naufrágios que o mar.

(Que a lua inatingível
desmadeixam tuas mãos
enquanto o tempo temporal batendo
como uma porta de silêncio soa).

Do vento te escrevo.
E é como se as palavras navegassem
nos frascos de nácar que os sobreviventes
lançam ao vai-e-vem das sereias.
Ao longe escuto
o amassado celofane do rio
descer pela ladeira
(um silêncio de jazz por sobre a relva).

E pergunto e pergunto:

É verdade que lá em vermont
as noites têm olhos azuis
e lavam seus cabelos com genebra?

É verdade que lá em Vermont os gerânios
outonam as tristezas?

É verdade que lá em vermont é agosto
e no mar, ausência...?

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