segunda-feira, 16 de julho de 2012

Gastão Cruz, UM MODO DE VIVER

Entendo cada vez mais claramente
como a proximidade do mar determinou
um modo de viver No único verão
em que a morte se aproximou mais
do que o mar de mim, não menos próxima por
não ser a minha, o calor
sufocou o meu corpo deitado ao
lado de quem via já a seca planície
cada vez mais coada pelo ar
cinzento de resíduos dum fogo que é agora
menos presente, real ou irreal quem poedria
dizê-lo definir o dia ígneo a que jamais
outro sucederia Ao lado desse corpo eu
desistia nem sei por quanto tempo já
da vida, afastado do mar pela primeira
vez numa parte do ano em que sem ele
a pele não respira e hoje vejo
com evidência os anos que passaram
desde que nessa morte não morri
mesmo quando supus que não existiria
eu próprio nunca mais como até ao momento
ponto final talvez de tal forma
na minha vida com nitidez pontuava
um dos seus fins Tenho mais um verão
na minha mão, igual e tão diverso de quantos
aqui vi principalmente diferente
dos que não se extinguiam São compridos os
dias mas cada vez mais breves as secções
da vida entre os finais que as delimitam
a ria sobe sempre até à casa
e contra o mar em que de novo molho
a pele, sem conseguir saber
exactamente o que mudou, comprime-a

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