sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Fernando Pessoa

O mestre dos mestres, vamos com ele:
"Deus criou-me para criança, e deixou-me sempre criança. Mas por que deixou que a Vida me batesse e me tirasse os brinquedos, e me deixasse só no recreio, amarrotando com mãos tão fracas o bibe azul sujo de lágrimas compridas? Se eu não poderia viver senão acarinhando, por que deitaram fora o meu carinho? Ah, cada vez que vejo nas ruas uma criança a chorar, uma criança exilada dos outros, dói-me mais que a tristeza da criança o horror desprevenido do meu coração exausto. Doo-me com toda a estatura da vida sentida, e são minhas as mãos as bocas tortas das lágrimas da vida adulta que passa usam-me como luzes de fósforos riscados no estofo sensível do meu coração."


Abraços, Marco.

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