quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

MURILO MENDES (6)

"GASPAR HAUSER

Ninguém mais pode escolher
A vida que lhe apetece.
Ninguém mais pode ser só:
As almas são reveladas
À luz de mil holofotes.

Em torno de mim se agita
Uma conspiração de olhares.
Vou tomar a carruagem,
Comunicam ao mundo inteiro.
Cheiro de uma rosa -- explodiu.
Só tive consolo e paz
No ventre da minha mãe.

A quinta-coluna que existe
Desde o princípio do tempo
Não se deixa respirar.
Sou sempre triste, no escuro.

Adeus universo padrasto,
Que rejeitas o inocente,
O órfão, o pobre, o nu.
Não acho irmandade em ninguém:
Morrendo, sou livre enfim.".

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