"...Uma vez também escolhi descer o Maelström -- e o meu desafio foi
experimentar o poder da palavra, o poder de seduzir, de vender porque
tudo é business, até o amor -- investimento em busca do máximo retorno
-- empenhas cinco e esperas pelo menos vinte, senão mudas de banco e de
mulher -- e vender, seduzir, tem por segredo o domínio da palavra --
porque no princípio, sim, era o Verbo, nada de Deus, mas, sim, o verbo
que pode ser conjugado em todos os tempos, em todos os modos, em todas
as pessoas, formando todas as combinações de universos, e nenhum é
mentira, porque também não há verdade. Para haver mentira é preciso
haver verdade, e o que existe é apenas isto, um evento, um espetáculo,
um show, e que cada um faça o que quiser, goze o que conseguir, porque
ninguém faz nada, ninguém decide nada, se decidisse, eu decidia ser
novamente jovem -- que deste insulto ninguém escapa nem vivo, nem
íntegro.
Pela palavra posso dizer o que quiser -- até posso dizer que sou novo ou velho, o que quiser, e tu, que sabes?
Apenas o que te digo. O que insemino em ti.
E
eu quis, tanto, experimentar esse poder para seduzir, para vender, para
criar abundância em mim, beber até o fundo, até à exaustão, até ao
excesso, do cálice da vida, do néctar inebrianta do gozo -- e perguntei
durante à minha entrevista: "A que me leva esta missão, pois o meu
tempo, aqui e agora, escoar-se-á e quero saber o que resulta disto tudo"
e os entrevistadores olharam-me incrédulos.
Sim, agora eu sei que eles têm razão.
"A
tua missão não tem objectivo que se conheça" disseram-me. "Ela não tem
propósito último a não ser viver-se a sim mesma. É um jogo. Queimar
tempo.".
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