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sábado, 25 de janeiro de 2014
Iberê camargo, pintor e escritor -- O vampiro mamão (II)
Foi assim que o descreveu o coronel, pai de treze neonatos mortos de inanição, embora sua mulher saudável e forte, tivesse leite capaz de nutrir uma manada de terneiros. Para desgraça da sua descendência, o coronel só surpreendeu o vampiro mamão após doze anos de luto contínuo. Lá estão no cemitério do Cati, treze sepulturinhas enfileiradas, quase em forma, como convém aoespírito militar. Até então a perda dos filhos não tinha desanimado o coronel. Bem cevado, já agora estourando dentro da roupa, era visto uma vez por ano a subir a lomba do cemitério, com um caixão de anjo debaixo do braço. Sempre o acompanhava Dona Malvina, madrinha e parteira da defunta prole (ela porfiava em ter um afilhado), com um buquê de flores escolhidas segundo o sexo da criança. Comentou-se que Dona Ermídia, sua mulher, fora de coniv~encia passiva, como vaca mansa que se deixa ordenhar. Os vizinhos fizeram conjeturas, espalharam versões sempre novas e maldosas. Teco, o porteiro, antigo ordenança do coronel, contava, à boca pequena, que Dona Ermídia ficara com o corpo -- especialmente o umbigo -- coberto de manchas arroxeadas, chupões; e que o coronel fora obrigado a usar a espada para desgrudar o vampiro mamão do seio da mulher. Teimava em associar o caso ao inexplicável morticínio das galinhas no sítio do seu Rufo. Coisas do diabo, todas elas de pescoço torcido, traseiro depenado, foram jogadas por cima da cerca! Na ocasião, suspeitara-se de um seminarista que nada tinha de gordo. de outra feita, dizia que o coronel surpreendera o vampiro mamão na cozinha, em cima da mesa, sugando ambos os seios de Dona Ermídia com seu focinho bifurcado; e que o tinha puxado pelas orelhas com tanta força que estas lhe ficaram nas mãos. Explicava que tinha sido um rebuliço, que a cozinha tinha ficado uma sujeira, com móveis e louças quebradas. A Fula -- gata de estimação -- andava seguindo um cheiro que ninguém sentia e um rastro que ninguém via. Ficou arisca. Quando vê Dona Ermídia, arqueia o lombo, eriça o pelo e assopra. -- Os bichos veem coisas!... -- concluía o Teco com ar de mistério. -- Coitada! Mamada...mamada pelo coisa cão! -- comentava com indisfarçável malícia. Ele atiçava as brasas e espalhava a fumaça.
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