quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Eliseo Diego, sobre poemas


  E para que serve um livro de poemas?, perguntariam agora, obedientes, os meus filhos. Servirá para atender, eu lhes responderia. Mestres maiores lhes dirão, com palavras mais nobres e mais belas, o que é poesia; baste-lhes, entretanto, se lhes revelo que, para mim, é o ato de atender em toda a sua pureza. Sirvam então os poemas para nos ajudar a atender como nos ajudam o silêncio ou a ternura.

  Não é por acaso que nascemos num lugar e não em outro, senão para dar testemunho. Ao que Deus me deu de herança, creio que atendi tão intensamente quanto pude; às cores e sombras da minha pátria; aos costumes de suas famílias; à maneira com que se dizem das coisas; e as próprias coisas -- às vezes obscuras e leves às vezes. Comigo se vão acabar estas formas de ver, de escutar, de sorrir, porque são únicas em cada homem; e como nenhuma de nossas obras é eterna, nem sequer perfeita, sei que lhes deixo quando muito um aviso, um convite para que estejam atentos. Para estar, melhor do que nunca estive, no que Deus nos deu de herança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário