O vampiro mamão
Não se creia que o vampiro mamão foi um desses cadáveres ressuscitados, repugnantes, de faces lívidas e presas enormes, gotejantes de sangue, que, através dos séculos, atemorizam os anglo-saxões e se nutrem do seu nobre sangue.
Concordo que o Mamaqui, como bem o chamaram, sofreu a sede insaciável da sua espécie, alimentou-se da seiva humana e que, como entidade da noite, teve a fobia da luz, o temor do cruzeiro e os demais atributos que lhe são próprios. Como seus iguais, preferiu as noites de breu, sem lua, para errantes caminhadas, onde, aqui e acolá, assaltava mulheres eleitas. Desdentado, sem necessitar de presas perfurantes, agudas e ocas como as das víboras, tinha os lábios macios e flexíveis, que num muxoxo se transformavam numa pequena tromba, num bico chupador. A boca adaptava-se anatomicamente à extração do seu alimento único, o leite. E este ele encontrava abundante nos seios fartos das jovens mães. Dotado de mobilíssimas mandíbulas e elásticas bochechas, que se inflavam na sucção como o papo do sinimbu, aconchegado à vítima, esvaziava-lhe os seios, enchendo aos borbotões o ventre de pipa, enorme e bojudo. A língua longa e estreita, franjada na ponta, lambia gulosa, no preâmbulo do repasto, o bico da mama. De braços abertos, na sua tradicional capa negra, era um grande pássaro que penetrava pelo vão de uma janela ou pela bandeirola de uma porta. Seus passos eram inaudíveis como se o corpo não tivesse peso. Também podia penetrar nos quartos por baixo das portas, ou pelo buraco da fechadura. Ferrolhos, trancas, ratoeiras, experimentados em vão, e muitos outros modernos meios de segurança, assim como anteparos, mostraram-se inúteis para lhe impedir a presença.
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