"...E se pudéssemos estoirávamos -- cindíamos a noite como glaciares de
gelo luminoso --- arrebentávamos com todos os vidros das janelas e
fazíamos as chaminés e antenas voarem como foguetes -- que por toda a
cidade ecoassem silvos de estática e solos de baterias frenéticas como
batuques africanos, esses canhões de voodoo -- a música para chavais
loucos e sedentos de paz, amor, charros e pontapés-na-boca e -- porque
antes queríamos viver como quem tem hora marcada com a morte: agora! --
preferíamos morrer de pé do que viver de joelhos - e arfávamos as
palavras com o empenho e paixão daqueles a quem a última oportunidade de
fala foi dada -- digam ou calem para sempre -- e dizíamos, e sorvíamos
tudo com ãnsias de afogados e asmáticos, aspirando todos os pequenos
detalhes banais como estrangeiros a este mundo sem nada a perder --
somente tudo a experimentar e viver --, como derradeiros instantes de
cadafalso em que já nada é assim tão importante mas tudo é lindo, lindo,
lindo como esta saudade que nos rasga...".
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