TAJ-MAHAL
Somos todos fantasmas
evaporados entre água e frondes,
com o luar e o zumbido do silêncio,
a música dos insetos,
gaze tensa na solidão.
De vez em quando, uma borbulha d'água:
pérola desabrochada,
súbito jasmim de cristal aos nossos pés.
Fantasmas de magnólias, as cúpulas brancas,
orvalhadas de estrelas, na friagem noturna.
Tudo como através de lágrimas,
com as bordas franjadas de antiguidade,
de indecisos limites,
e um vago aroma vegetal, logo esquecido.
Tudo celeste, inumano, intocável,
subtraindo-se ao olhar, às mãos:
fuga das rendas de alabastro e dos jardins minerais,
com lírios de turquesa e calcedônia
pelas paredes;
fuga das escadas pelos subterrâneos.
E os pés naufragando em sombra.
Eis o sono da rainha adorada:
longo sono sob mil arcos, de eco em eco.
(Fuga das vozes, livres de lábios, independentes,
continuando-se...)
Vêm morrer castamente os bogaris sobre os túmulos.
Movem-se apenas sedas, xales de lã,
alvuras: como sem corpo nenhum.
Tudo mais está imóvel, estático:
mesmo o rio, essa vencida espada d'água:
mesmo o lago, esse rosto dormente.
Entre a morte e a eternidade, o amor,
essa memória para sempre.
Foi uma borbulha d'água que ouvimos?
Uma flor que desabrochou?
Uma lágrima na sombra da noite,
em algum lugar?
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