segunda-feira, 22 de abril de 2013

Cecília Meireles, DESENHO LEVE

DESENHO LEVE

Via-se morrer o amor
de braços abertos.

Uma espuma azul andava
nas areias desertas.

Nos galhos frescos das árvores,
recentemente cortadas,
meninas todas de branco
se balançavam.
O eco partia o baralho
de suas risadas.

Via-se morrer o amor
de mãos estendidas.

Uma lua sem memória
pelas águas transparentes
arrastava seus vestidos.

Via-se morrer o amor
de solidões cercado.

Via-se e tinha-se pena
sem se poder fazer nada.

E era uma tarde de lua,
com vento pelas estrelas
esquecidas.

E ao longe riam-se as crianças:
no princípio do mundo,
no reino da infância.

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