segunda-feira, 15 de abril de 2013

Cecília Meireles, DESPEDIDA

DESPEDIDA

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão.
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conhecestes? -- me perguntarão.
-- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? -- Tudo. Que desejas? -- Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma etranha guerra...)

Quero solidão.

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