domingo, 14 de abril de 2013

Cecíla Meireles, CANÇÃO DE ALTA NOITE

CANÇÃO DE ALTA NOITE

Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar...Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andra... -- enquanto consente
Deus que seja a noite andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar -- somente.
Não necessita de nada.

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