heráclito
O
segundo crepúsculo.
A noite
que mergulha no sono.
A
purificação e o esquecimento.
O
primeiro crepúsculo.
A manhã
que foi a aurora.
O dia
que foi a manhã.
O dia
numeroso que foi a tarde gasta.
O
segundo crepúsculo.
Esse
outro hábito do tempo, a noite.
A
purificação e o esquecimento.
O
primeiro crepúsculo...
A
aurora sigilosa e na aurora
o
soçobro do grego.
Que
trama é esta
do
será, do é e do foi?
Que rio
é este
por
onde corre o Ganges?
Que rio
é este cuja fonte é inconcebível?
Que rio
é este
que
arrasta mitologias e espadas?
É
inútil que durma.
Corre
no sonho, no deserto, num porão.
O rio
me arrebata e eu sou o rio.
De
matéria perecível fui feito, de misterioso tempo.
Talvez
o manancial esteja em mim.
Talvez
de minha sombra
surjam,
fatais e ilusórios, os dias.
José Luis Borges
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