FABRICAÇÃO
Especial do mês de outubro, poemas preferidos
A
qualquer preço quero entrar na língua, presentear as possibilidades de dizer
com este extravio em direção do que agora recebeu o nome de você, do que se
chama enigma -- este pátio, este limiar, estofados, estas portas de Paris para
onde você foi proscrita, e gostaria que o poema se tornasse romance atraindo
para si os gestos da cozinha, as frases de telefone, o uso do vento, a
insignificância daquilo que nos separa da morte; a qualquer preço redoar à
língua, tornada túmulo, tudo aquilo que nos dá que chamamos seu exterior, e
rebater sobre ela esta vida com a pulsação de que fosse capaz, em um barroco
obscuro monumento a seu erro, criticado por outros; fugindo pelo pensamento* em
sua floresta de palavras arrancadas da noite (bistre, quilate, pontura) e
relapso com o léxico, o emudecimento e as frases familiares, como uma prova em
suma de velocidade sobre obstáculos através da mata, cuja destinação mortífera
e negligente arqueja até o branco pé de página, no reverso, o banco de repouso,
ufa! E de igual maneira atravessar ao lê-la uma biblioteca num salve-se quem
puder trazendo livros em meu livro, re-suscitando, e destruindo sem descanso
para salvá-las do desastre as páginas admiráveis impossivelmente condensadas no
poema
* fugindo por exemplo fugindo
do grave no centro do mais sério
mesmo no modo como você mostra
um exemplo ensurdecido na conversa
e rápido como um deus que erra um rapto
* fugindo por exemplo fugindo
do grave no centro do mais sério
mesmo no modo como você mostra
um exemplo ensurdecido na conversa
e rápido como um deus que erra um rapto
Michel Deguy
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