CADA VEZ QUE ALGUÉM MORRE
Especial
do mês de outubro, poemas preferidos
Cada vez que alguém morre
digo alguém a quem amo
sinto que meu pai torna a morrer
será porque cada dor recente
traz a marca de uma dor antiga
por exemplo este dia em que árvore alguma
está de verde e não ouço os latidos
da memória constelada
e um só cachorro uiva por via das dúvidas
torna a meter-me naquele outro
interminável em que meu pai
se foi mudando lentamente
de bom velho em coisa pouca
de coisa pouca em queixa imóvel
de queixa imóvel em resto inútil.
digo alguém a quem amo
sinto que meu pai torna a morrer
será porque cada dor recente
traz a marca de uma dor antiga
por exemplo este dia em que árvore alguma
está de verde e não ouço os latidos
da memória constelada
e um só cachorro uiva por via das dúvidas
torna a meter-me naquele outro
interminável em que meu pai
se foi mudando lentamente
de bom velho em coisa pouca
de coisa pouca em queixa imóvel
de queixa imóvel em resto inútil.
Mario Benedetti
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