sábado, 30 de junho de 2012

pequena folha

Amadurecer
é sabe
a dor de viver
conscientemente
saber que uma mordida dói também em quem morde
saber que a vida
é um corte instantâneo na morte
que é natural
como uma folha se decompondo
como um canto de pássaro murchando
por falta de árvores
como um pequeno poema
tentando
comunicar

No meio do meu caminho


No meio do caminho tinha uma perda

tinha uma perda no meio do caminho

tinha uma perda

no meio do caminho tinha uma perda.


Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma perda

tinha uma perda no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma perda



Mundo Real

Quem disse que somos adultos?
Se nos entregarmos à liberdade de amar,
seremos crianças!
santas
se não
somos adultos fingindo não ser crianças
e aí
acaba a esperança

o mundo real é a infância!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

à canivete

uma vida se define em palavras
desculpe
mas
um mudo não consegue me fazer verter lágrimas
todos os nossos instantes
dos mais simples
aos mais emocionantes
são descritos
por signos
escritos
um amor
sem um símbolo
à canivete na árvore não existe
um aceno de mão sem uma declaração diminui de intensidade
uma gota de lágrima num oceano de palavras
é o amor completo

sangue

choro se tenho vontade e rio também e grito e peço e meço e teço um verso isso tudo a idade me trouxe saber para onde quero ir e com quem com quais palavras descreverei a dor o amor a flor a cor do sangue que sinto na boca quando sinto raiva amor ódio calma

casca


em lágrimas...a árvore chora sementes

futuros frutos, dádivas

esperando águas para sonhar

um passado

um pássaro

ensina a voar a sonhar

com o azul do céu

com o branco do sal

só um santo se sacrificaria por uma monção

um sorriso uma canção

é um canto, esperança

nas asas de uma folha desgarrada

um pedaço de casca

é uma declaração de estação

folhas forram o chão de ilusão esverdeada

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Eliseo Diego, TESTAMENTO

Já que cheguei ao tempo em que
a penumbra já não me consola mais
e me abatem os presságios menores;

já que cheguei a este tempo;

e como as borras do café
abrem de repente agora para mim
suas redondas bocas amargas;

Já que cheguei a este tempo;

e perdida já toda a esperança de
algum merecido ascenso, de
ver o fluir sereno da sombra;

e não possuindo mais do que este tempo;

não possuindo mais, enfim,
que a minha memória das noite e
sua vibrante delicadeza enorme;
não possuindo mais
entre céu e terra que
minha memória, que este tempo;

decidido fazer o meu testamento.
É
este: lhes deixo

o tempo, todo o tempo.

solfejos

sorvo versos
como uma criança
sorve o momento
tenso de tanto sonhar em continuar
não paro de pensar e escrevo tudo
todos os momentos tensos em que em versos
solfejo

sorry

sigo inventando minhas próprias feridas
sorry
sofri mas sorri
e isso é o que acaba sendo o mais importante
não desistir de nada por um instante
que se prolonga ao sabor do verso

I'm so sorry

sofri mas sorri

(desculpe-me, em inglês)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

adios

há pouco deixei de vomitar
e já consigo pensar
em tudo
no mundo
mudo
dos que fingem entender
sem sentir

não há a mínima possibilidade
de se mentir para si
todos sabemos dos motivos e dos atritos que sentimos
negá-los é apenas a forma mais direta de adiá-los

sede de sararmos deveria nos guiar
ao invés de tenatarmos negar
tudo o que nos faz ter vontade de dormir
dizendo sentir o que não entendemos

abdala

se a poesia está no ar por que poucos conseguem pegá-la?
domesticá-la é possível?
contratá-la como se contrata uma empregada doméstica?
vaidade escrevê-la para retê-la para si?
ou então respeitá-la e dividi-la sendo mímica de uma noção de emoção
e portanto possível enquanto houver um jeito de cheirá-la?

numeradas

...onde, onde os homens guardam os segredos de seus fingimentos
tingimentos de tecidos puídos, podres de tanto pedaço de mato podre, de água estragada por mentiras deslavadas
onde os homens gostam de mentir e contar se divertir com suas mesquinharias daninhas ervas que entopem suas artérias
onde fingem não se importar?
na mesa de um bar?
num home-theatre com filmes alugados?
num anfiteatro com cadeiras numeradas e lugares marcados por ordem de importância da mentira que são os atos de sua adulta vida?

secreção

o tempo
na verdade só existe pelas rugas dos dedos
as mãos calejadas
entupidas de segredos segregam falhas
e nos demonstram nossa humanidade
que acaba
num tempo determinado por algo
que se chama natureza
beleza de desejos
fartos de segredos
que secreta
inspiração

terça-feira, 26 de junho de 2012

Autumn Leaves (versão livre)

As folhas caem
suspiro lágrimas
verdes de maio
desmaiam palavras

As folhas caem
em tardes gris
eu soluçando
saudade-raiz

A solução:
viver de ilusão
rimar
perdão com amor
achar
um cheiro azul
na dor

O outono cai
verdade jaz
e eu esperando algo acontecer

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Eliseo Diego, VASILHA ÍNDIA

Esta vasilha, com a asa
onde um passarinho levanta
seu bico ansioso, foi delícia
de sua dona. Logo o áspero
escândalo estrangeiro
sufocou os murmúrios
da lida diária. Logo o tempo
 -- o cauto, o taciturno --
com astúcia e paciência, foi apagando
a fumaça, a névoa dos dedos
de suavíssimo bronze. Depois veio
o sol de novo, e os olhinhos
redondos do bichinho
olharam cegos.
                        Foi, quem sabe,
desde o começo, este vazio
a razão do seu sobressalto?
                        O oleiro
misturou na argila o desamparo
e lhe fez o ser de assombro.

fingido

A Charles Aznavour

por fingir meus sorrisos estou vivo
seria muito difícil olhar o espelho e me dizer a verdade
seria de uma ardência sobrehumana
quase mundana
admitir todos os erros que me trouxeram até esse estágio de ter de fingir sorrisos para continuar a sobreviver
continuar a dizer me amar
para evitar (me)
o fim

Eliseo Diego, QUIETUDE

Quase não roça a palavra
sequer a borda da luz
sob a sombra das mangueiras.
                   Tudo
agora está imóvel, como a salvo
do tempo que se vai
         -- enviezado, no escuro --
pelo segredo de tuas veias.

Eliseo Diego, ARTESÃOS

Pules e pules, vês, o duro verde
até que enfim brota. Quiseste dar-lhe
forma de pétala.
                           (Mais tarde
alguém, sagaz, dirá: o machado
tem forma de petala.)
                                    Sozinho
pules e pules na luz de outubro
até que asoma a alma da pedra
num hoje sorridente.
                                    Longe
está o amanhã, como longe
o ontem ficou contigo.
                                      Só a alma
sorridente da pedra verde
brilha no hoje de sempre.

resposta 2

...na verdade
não há por que escrever
na medida que todos os escritores sabemos que quase ninguém quer ler
então por que continuar a escrever?

boa pergunta
cuja resposta sem pensar seria:
para o escritor escrever é um prolongamento do ato de pensar e ninguém vive verdadeiramente sem pensar

sussurro

(esse poema é um sussurro de amor, de amor à vida:
não peça para seu filho ser fortaleza ensine que há tristeza que a alegria desabrochará no momento certo toda a certeza virá e os sorrisos serão definitivos na boca precisa de um menino que aprendeu a errar, não insista na sua felicidade pelos atos dele ele é outro ser com a luz brilhando de ingenuidade não afaste dele aquilo que o qualifica, ele aprenderá que a vida existe mais pela insistência de se querer amar e amando ele aprenderá a perdoar inclusive os seus erros de ansiedade,  mostre que o jardim é composto de flores, que já foram sementes que precisam de água, nutrientes e de sol para se firmar como todos nós que nascemos para florescer mas ás vezes nos esquecemos de nos colocar perto do calor do sol estrela maior de uma vida feita de sussurros de amor, de erros, de ansiedade, e porque não dizer, de poesia)

Eliseo Diego, O OBSCURO ESPLENDOR

Brinca o menino com umas poucas pedras inocentes
no canteiro gasto e esburacado
como um pano de velha.

                                                        Eu pergunto:
que irremediável catástrofe separa,
suas mãos de minha fronte de areia,
sua boca de meus olhos impassíveis.

                                                         Eu suplico
ao pequeno senhor que sabe comover
a tranquila tristeza das flores, o sagrado
costume das árvores adormecidas.

                                                        Sem querer
o menino distraidamente solitário empurra
a domada fúria das coisas, esquecendo
o obscuro esplendor que me cega e ele desdenha.

domingo, 24 de junho de 2012

canoas

Lápide

saque-me daqui

rapte-me

desse mundo camaleoa

onde pessoas fingem

estar à toa

e ficam

mudando de cor

invejando meu pulsar

interestelar-pavoa

que soa

ressoa

atordoa

que transforma navios

em canoas

pelo tamanho da maré que tenho em mim

vivência

...são tantos livros...

não preciso ler todos porque imagino...


todos dizem o que sinto (?!)

sinto muito mas às vezes me parece fácil saber

que nos doidos é menos doído viver

os sabidos sofrem por querer saber de tudo

sobretudo daquilo que não entendem

às vezes parece que não sentem

parece que sentem medo de sentir

e se previnem querem estudar, ler

rótulos rotinas ruínas incas

tudo que possa minorar a dor de se ver envelhecendo

às vezes é mais fácil negar o aniversário do que comemorá-lo

vivendo

família

A Juliana Dargam

Juju
siga seus instintos
rindo
siga
beijando
sofrendo
sorrindo
tudo vale a pena
se a alma
é grande como o amor
que sentes
pela vida
pela natureza
pela família
que somos
todos nós
os que gostamos de ti
rindo
sofrendo
seguindo

sábado, 23 de junho de 2012

Eliseo Diego, COMO A UM DEUS

Escreve: Um homem, lá no seu quarto, na fundura do claro pa-
lácio de chuva, não é como um deus a quem obedecem obscura-
mente, mesmo sem se dar conta, todas as criaturas? A árvore o
escuta desde de sua intempérie, e na consciência úmida dos grilos está
como o sonho.

Quando o chamam para comer e sua família se reúne ao redor da
mesa, através da luz solene, e começam a voar palavras, algumas
com voo curto, que caem inaudíveis, e outras de voo tão ágil;
ou quando acende a lâmpada no portal e se envolve na luz diante
da noite: então não -- então passa como se ignorasse tudo.

Porém lá, na profundidade da chuva, obscuramente sabe que ele
dispõe a festa das folhas mais distantes; obscuramente os seus dedos
movem os cordões das nuvens noturnas; e obscuramente ele é esque-
cido, como a um deus -- como a um deus que compassivamente se
distrai e contempla o sentido de suas mãos, lá nas profundezas da
memória.

precioso

o desespero de Miles
preciso
preciso do desespero de Davis
preciso
preciso daquilo que está embutido
de parte do todo de tudo preciso
preciso do desespero único
que seja tolo
mas de todo o desespero
de osso de todo de tudo aquilo que me faz
preciso

derradeiro

apelo explícito aos meus sentimentos
toda vez que estou vazio preciso de um jazz
com um azul sofrimento
Chet cantando Miles apitando um trumpete de gritos estridentes
precisos
preciso
de uma voz que confirme que existo
simples assim
mas
no entanto derradeiro

sentimento-blues 2

A Chet Baker

...e se o azul fosse o único sentimento
repleto
de tormentos
e se fosse uma água limpa que retirasse minha sombra
um nome num homem enorme
fome
de soma
de tônus
bíceps
sofrendo o mal de amar

e se tudo fosse só uma nota
música
de melodia torta
de pedaços
estragados de ilusão

e se tudo fosse diferente de azul
com que rima iria me deixar um sentimento-blues?

sexta-feira, 22 de junho de 2012

plácidos

o gosto acre
ácido
do seu hálito
espera por beijos
plásticos
exatos
sem emoção
vida com compaixão
exala o doce
de chocolate
de nossos carinhos
plácidos

pânico

...significa?
tudo significa
se fico parado esperando
se crio uma fila
se acho que sei e por isso não preciso fazer
se não sei mas acho que posso ensinar
tudo nos indica quem somos
tudo reforça nosso caminho
ou nos dá pânico do próximo passo com vida

Eliseo Diego, NO FIM DO JOGO

No fim do jogo se embaralham as cartas, e o que ia bem tranquilo
na frente, onde é que vai parar?

Aonde o rei onde o cavalheiro e os demais onde?

Ar e terra e fogo e água: fé e embaralhar.

regozijo

num dia frio
o que nos esquenta são olhares de calafrio?
mãos que rezam buscando o regozijo?

(um começo de atrito produz futuras recordações)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Eliseo Diego, O MAR

O mar é um ancião cheio de ofensas: a pertinácia da terra, a agude-
za inoportuna da chuva quando enche o peito com o grande alento
da solidão.

O mar não pode mover-se. É um enorme ancião que não pode
mover-se, e que se angustia e clama no meio da noite. Pelo ama-
nhecer sorri entre as suas barbas.

O mar é um ancião cheio de ofensas, que argui com poderosa voz,
sozinho, por toda a larga solidão da noite.

Eliseo Diego, NO FULGOR DO MONTE

Os importantes leitõezinhos grunem rente à parede esfumaçada.

O gato de olhos lívidos os espia desde o ócio.

Os importantes leitõezinhos correm de uma parte para outra e se
encolerizam magnificamente.

Mas o gato de olhos lívido lhes dá as lívidas costas.

E a cada passo afaga, no fulgor do monte, os ruídos obscuros.

Eliseo Diego, A ESFINGE

O seu trabalho era o de vigiar o jardim o ano inteiro. Tinha os
olhos azuis, o velho; o corpo frágil, o cabelo singelo.

Pela manhã cortava a erva com a máquina. O rumor da máquina e
o aroma das ervas entravam pelos quartos vazios, nas salas e nos
confusos corredores. Às vezes permanecia um bom tempo parado
num lugar qualquer, apoiado no ancinho. Conheceu todos os re-
cantos do jardim sombrio, e aprendeu que dobrar a curva de uma
sebe pode ser a viagem mais longa.

As chuvas e a lua rolaram sobre os seus ombros, tal como os anos
frágeis. A ruína dos altos pinheiros e a morte de umas flores lilases
mal conseguiram roçar a sua indiferença.

Ele vivia no jardim como a Esfinge. Estava no jardim, só e simplesmente.

Eliseo Diego, A HORA DO MEIO-DIA

As árvores, na hora do meio-dia como copos derramando, e o cla-
mor da cal, na hora do meio-dia, e o silêncio transbordante.

Este é o coração que faz mover as sombras, da tarde e da manhã,
todos os sonhos, as minuciosas escalas da angústia e do júbilo.

Mais os velozes triunfos da noite, quando através dos ares lança a
sua funda, com o punho cerrado.

ragtime

quero colorir a tristeza azul
quero um ragtime cor de lótus
sol forte
água forte
sonho forte
um norte
para o blues do sul
um cômico com sorriso pintado de dourado
e sapatos grandes em pés pequenos de palhaço
um forte abraço
que diga que sirvo sendo apenas eu

MR. DAVIS


Como encontrar palavras

para descrever

Miles em ação

Seu lirismo, seu ataque,

Sua pujança

sua tudograndança

me inspiram

a tentar

disse tentar

escrever

poemeus

meio punk bebopianos

com sua intensidade e seu lirismo

O cara era

tão gigantemente grande

Que seus

sidemen (acompanhantes)

Eram e são os grandes:

Evans, Hancock, Corea, Shorter

Entre outros

Talvez só Marsalis

domando os Young Lions

Pudesse pretender

fazer frente

E eu daqui

Pequenininho

Fico apitando meu apitinho

Tentando

Imaginado

Chamar

Atenção

Sem conseguir, por óbvio

Mas tentando sempre tentando

Tentando tentando

Tentando tentando

Tentando tentando

Tentando.....

respiração

...e a dor de nadar é descobrir nossa capacidade de respirar
enquanto a vida está parada

nadador

nado na piscina azul dos seus olhos

quando daí sairá um sorriso?

Eliseo Diego, VERSÕES

A morte é essa pequena jarra, com flores pintadas a mão, que há
em todas as casas e que a gente jamais se detém para ver.

A morte é esse pequeno animal que cruzou o pátio, e do qual nos
consola a ilusão, sentida como um sopro, de que é somente o gato
da casa, a gato de costume, o gato que cruzou e que já não voltare-
mos a ver.

A morte é esse amigo que aparece nas fotografias da família, discre-
tamente a um lado, e que ninguém jamais conseguiu reconhecer.

A morte, enfim, é essa mancha no muro que uma tarde olhamos, sem perceber,
com um pouco de terror

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Marsalis

a poesia
é um silêncio de argumentos
um fraco silvo de humanidade
um Wynton Marsalis
soprando
bonito
um som forte e frágil ao mesmo tempo
mas verdadeiro
um tênue som inteiro
como uma vida sutil
um sopro que jaz

KUNG FU FIGHTING (Versão)


A

Thiago quebra no Kung fu figthing

Bernardo gosta da fight

Victor e Vinícius fazem sua parte

Amizade verdadeira arte



B

Todo mês de fevereiro eles vão pra Chinatown

Amor à amizade não pode ser fatal

Um ancião chinês ensinou que o principal

Ser amigo, ser sincero é fenomenal



A

Thiago quebra no Kung fu figthing

Bernardo gosta da fight

Victor e Vinícius fazem sua parte

Amizade verdadeira arte



C

Marco e Vinícius com Marco e Gabriel

me ensinaram que a música é o principal

Todos somos chefes para afastar o mal

A emoção é viver para sempre fazer o bem



A

Thiago quebra no Kung fu figthing

Bernardo gosta da fight

Victor e Vinícius fazem sua parte

Amizade verdadeira arte

risadas

minha solidão é minha

mas pode ouvir a sua

não pode no entanto se apropriar de tudo

pode

bailar

beijar

balançar

até adorar, talvez

mas

nunca irá levá-la de você



sua solidão é sua, não minha

minha solidão é minha, não sua



ambas são melodias

que só tocam nos ouvidos dos donos

são adornos, tatuagens sonoras

que carregamos

sem misturas

mas

com afeto podemos

nos tocar

nos amar

nos acasalar

fazendo

poesia e melodia, unidos



das risadas gostosas

dos suspiros sonoros

que rimos

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Eliseo Diego, AS OBSCURAS MEDALHAS

Vi os anciãos de camisas brancas, os velhos de chapéu amargo.

Num parque, ao lado da parede rachada de uma igreja, quando a
cinza prudente cobre cada folha, exceto na ilha dos velhos, que
arde com as suas obscuras medalhas.

E sentados inflexíveis à mesa, todos de branco, reclinados um pouco para trás e sorridentes, levemente inúteis embora veneráveis perto
dos jarros, frescos, entre os duros jovens da família.

Eu os vi sozinhos, passando o tempo tão pobre, oh felizes, escre-
vendo com o bastão largas iniciais.

Eu vi os anciãos, sim, vi os fundadores admiráveis.

natural

se você só leu poesia na adolescência esqueça
é provável que sua memória esteja te enganando
poesia fala pouco sobre amor
poesia
é coisa de adultos
ou pelo menos para quem pretende amadurecer
trata da dor de viver
do cheiro da saudade
da idade em que comíamos banana com gosto de bananas
da época que ainda existiam tangerinas
a poesia não esquece de quem fomos
mas dá direção a quem pretendemos ser
um ser
natureza
que planta tempo
e colhe alento
sem medo de ser
sofrer
naturalmente

domingo, 17 de junho de 2012

menino-aconchego

Bernardo
menino talhado
na luta diária da saudade
olhos de fado
de bondade
um som de blues
nas despedidas
sinceras e amigas
intensas como suas mãos de poeta
menino sapeca
dos pais
tios e primos
és um princípe pedindo
uns safanões
ora pois
então damos com carinho
atendemos os olhos pidões do menino-caminho-aconchego-do-ninho

(menino que me ensinou a sonhar)

todo prosa

...se sorte existe
é de ser
(humano)
e em sendo poder escolher
entre
a cruz
a espada
ou
a rosa
entre
a religião
a luta armada
ou
a prosa

Eliseo Diego, LAMENTAÇÕES

Se um rei te ordenasse: volta!, continuarias andando, bem devagar,
que nem a astúcia de uma vela revelaria a tua respiração.

E se uma criança, tocando a tua mão, te pedisse: volta!, seguirias
andando, e encolherias um pouco os ombros.

E se a velha lua, escondendo o rosto, e se os astros com um grande
clamor te conjurassem: volta! continuarias andando, tão devagar
que não reconheceríamos tuas costas, e nos consolaríamos dizendo:
aqui está a aurora, que regressa.

Eliseo Diego, O SURRÃO

Não há de chegar o bom tempo, como o surrão cheio de flores,
escaravelhos, pedras chinesas e animados grilos?

Há de chegar o bom tempo que olha, com seus vagos olhos azuis,
a antiga felicidade?

O que fica sério de repente, e passa a mão sombria pela fronte, e
sussurra umas palavras sem sentido, que entristecem.

O bom tempo, com seu surrão de assombros, de prodígios.

buraco

gostaria de saber escrever tudo o que sinto
gostaria de saber escrever todo o sentimento contido
em mim
em nós
uma pequena raiz um dia cresceu e foi mãe de todas as plantas
de todo o meu carinho
se foi e levou consigo
quase tudo
quase o mundo todo está contido nesse sentimento de buraco sem fundo

raiz

...para cada lágrima
uma palavra
quase nada
diante do amor que se foi...

dizem que o tempo aplaca..
que nada
o tempo somos nós diante do espelho
sofrendo....

(somos nós
duma
árvore
que voltou a raiz)

meninas dos olhos

...um doce vento
de uma recordação de beijos
desejando desejos
solto as amarras
e descubro um poema
que está lá pendurado num ramo de árvore
planta de rimas
frutas de cristais

sedes divinas
seres de doação
esperando algo acontecer
com aquele ser humano que anseia por tempo
e por isso não consegue ter sede de senti-las
como são
meninas dos olhos de nossas futuras recordações

sentiventos

na vida as coisas têm tempo e prazo
tempo para acontecer
e prazo para acabar

uma flor não nasce no mar
uma ave não voa sem asas

o sal salga pelo paladar
o doce para acalmar

tudo tem vez e lugar
tudo existe pelo nada
que sentimos
quando estamos
sem direção

Eliseo Diego, OS TEMPOS

O tempo do Paraíso é o suave gotejar da água, quando acaba de
chover, entre as folhas de bananeira.

O tempo do Inferno é a umidade que encontramos debaixo das
grandes pedras, manchando a manhã.

O tempo do Paraíso é a transparência da água.

O tempo do Inferno é a transparência de um espelho.

O tempo do Paraíso é o Rei Mago de barro que está nos presépios.

E o tempo do Inferno é o Rei do baralho.

sábado, 16 de junho de 2012

Eliseo Diego, DEBAIXO DOS ASTROS

É assim que a casa desabitada, pela tarde, range de repente como o
cordame de um barco.

Vibram solitários os cristais vazios, a penumbra nos quisera comover,

e o pequeno animal, de de pele lustrosa pelos cantos, trêmulo foge,
como sempre, lá para cima.

É aqui onde dizíamos: que maldito tempo faz debaixo dos álamos,
ainda bem que você veio a tempo, boa-tarde, oh pai,
que noite ruim, que bom-dia sempre.

Aqui, no umbral que os brandos ventos nortes das portas cobrem de
cinza a fina poeira,

algum de nós, os de casa, deve vestir os pesarosos, os escuros trajes
do sacrifício para dizer: aqui esperava, e aqui
costurava mamãe suas misteriosas fazendas brancas,

e aqui entrou naquele dia o tímido lagarto, e aqui a mosca estranha
que zumbia, e aqui a sombra e os talheres, e aqui o
fogo, e aqui a água.

Porque chega uma hora em que todas as casas se esvaziam de seus
ruídos mortais

e as vidraças são frias como esses invernadeiros desolados, lisos olhos
de morto, que ninguém sabe nunca onde ficam,

é preciso que alguém, algum de nós, venha e diga: os talheres da casa,
que fim levaram, alguém sem dúvida os roubou.

Grave silêncio, sobre meu ombro descansas como o peso comovedor
de uma moça soluçante.

É assim que agora tudo falta. Se alguém nos oferecesse um pouco
de café nos salvávamos

porque a casa desabitada é adusta como a justiça do fim e do vento
que passeia lá por cima não é nada mais que o ven-
to, os aposentos não são mais do que os aposentos
da casa vazia

e é como se ninguém houvesse chegado, como se ninguém visse os
recintos do homem, debaixo dos astros.

Eliseo Diego, ACABARAM-SE AS FESTAS

Acabaram-se as festas que sabiam
iluminar os fundos corredores
nos quais as boas tardes se cumpriam.
Já se acabou a luz das suas cores.

A pobreza do circo ao fim do poente
nos falava do mundo vasto e eterno.
Acabaram-se os circos, inocentes
como eram os realejos pelo inverno.

E já as tardes se esquecem dos ligeiros
deuses de anil com seus costumes suaves.
Não volta com os anos a fragrância

dos encantados coches e lindeiros
-- nem o barco só com notícias graves
da penumbra, das pérgulas, da França.

Eliseo Diego, A ESFINGE

Visitei as distantes províncias
do jardim que esquecemos, e vi
o pequeno lagarto no rio
misterioso do muro. Em silêncio,
diferentes os seus olhos reais,
me olhou como a tudo. Estremecendo
repassei as perdidas muralhas
dos pobres canteiros, oh rainhas
dos anos sombrios!, sozinho
com o cego umpassível, desperto.

Eliseo Diego, DIÁLOGO NA SALA

A água, que sacia a treva livrando-a da sede, purificando-a.

No copo a contemplo, transparente, poderosa e real como a graça.

O que diremos da água: sua cor opulenta nos alegra,
sua ágil forma de cervo nos regala os olhos, recriando-os.

Sua ágil forma de menina entre as rochas diz estranho nome.

Debaixo dos pinheiros voam as sombras, as silenciosas asas da chuva.

Pelo caminho chega quem comove seu manto em radiantes rajadas,

mãe ou rainha venerável, seus cabelos são cinzentos como o ar de
novembro.

Mas a menina foge pelo bosque, silenciosa volta á sua casa.
Quem, dizes, chora tão perto, onde somente vemos o torso, a deso-
lada velhice da samambaia?
Chora tão suave, sim, na verdade, tão suave como as tábuas escuras
lá de cima.

O viajante que toca em nossas portas olha a profunda sala e diz com
nostalgia: sua penumbra

explica uma cestinha de pão que vira numa sepulcro, e depois boa-
-tarde, já me vou.
Porém tu pensas na visitação funesta, e no sabor salobre das águas

inundando as fauces do maribundo transido de silêncio, de solidão
e imagens tediosas.

Enquanto lá fora, no jardim, alguém oficia, lava de desgosto as fo-
lhas das árvores,

aqui na sala bailam finíssimas sombras, as serpente e os animaizinhos
das águas.

Mas eu digo: olha a água doce adormecida entre as tuas mãos, o que
diremos da água.

No copo adormecida a água sonha o teu rosto, fiel recorda o teu
nome, minha amiga, a nostalgia.

sangramento

A Gil Milagres

todos precisamos de tudo
alimento sol sombra carinho
todos precisamos reconhecer o barulho e o cheiro do ninho
primeiro sonho
ilusão de continuar nadando
num mundo plano, sem tempo
todos precisamos de tudo
e o mundo
nos evita
como separar o joio da ferida?
como não gritar sangrando em poemas
que tentam
mas não estancam minha desilusão?

Continuar vivendo é segurar a própria mão?

flor-de-lótus

A Helson Costa


...sim!
ao pó voltaremos
como a chuva ajuda o vento a dissipar desilusões
como soluções
são solúveis
quando desconhecem o tamanho da dor da execução...

ao pó voltaremos porque nascemos para ser natureza!

masoquistas

Porque fingimos desconhecer que a natureza somos nós?
Talvez para poder
agredi-la
incendiá-la
apedrejá-la?
Se sentíssemos em nós
todas as agressões à natureza pararíamos
ou nos assumiríamos masoquistas?

nós

poesia
é o ar que respiro
insisto
todos os poemas já estão escritos
porque são natureza
e ela está á nossa disposição
(na verdade, nós somos natureza)
é só saber (nos) plantar ao invés de (nos) arrancar

poderíamos como as árvores contar o tempo pelos nós

sexta-feira, 15 de junho de 2012

maçã do tempo

o sol realça alguns verdes
outros continuam na sombra
a inteira árvore não espera por nada
e continua sua entrega diária de oxigênio
que nos salva a todos
enquanto respiramos podemos escolher
deixar de torcer
entregar sentimentos
morder a maçã do tempo
e tentar colher algo dentro de nós que talvez estivesse apenas esperando água

ser vivo

alguns poemas não precisam de temas
pois são apenas prolongamentos de uma existência que passa a ser escrita
descrita no papel
as letras se juntam para dar alguma direção a uma vida que está sendo sentida com todas as dificuldades inerentes ao verbo sentir e daí o poeta passa a se exprimir tentando salvar a verdade que normalmente escapa entre os dedos do ser vivo com medo

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Eliseo Diego, O MONUMENTO

Por entre as avenidas
da chuva, já perdidos

os motivos mais belos
do ar, estão as querelas

tardias entre as palmas
e as sinistras calmas

do vasto peito gris,
que abrumam o país

desses canteiros tristes.
Um pobre estranho insiste

contra as águas. É pardo
o seu traje; galhardo,

ele aguenta as temíveis
rajadas impassíveis.

Suaves as alamedas,
ferventes de moedas

lívidas, em cerradas
filas fogem caladas.

Ele é, no ruinoso
parque final, curioso

de sempre, vigilante
da poeira e passeante,

qual um mestre, do ano.
Nos alivia os danos

do tédio, do encanecido
tédio, o misterioso

traje pardo. O frio
estrangeiro, sombrio,

açula o seu furor
mas o estranho senhor

não se move, sincero.
de bronze, verdadeiro.

Eliseo Diego, PÕE A VELHA CAMISA QUE JÁ SABE

Põe a velha camisa que já sabe
desse ano rumoroso e do tranquilo
ano inocente de sucessos graves,
pano de cegos, azulados fios.

Põe o chapéu, o de ilusão caída,
que te alegrava em sua tosca neve,
o jaleco que sabe a boas-vindas,
e a gravata solene para as nove.

Porque é certo que chegam esta tarde,
porque é certo que venham te dizer
algo importante como um nobre alarde,

que te bastara para não morrer.
Mas olha bem a noite, já faz tarde,
e somente esperavas, deves ir-te.

Eliseo Diego, LÁ FORA

O crepúsculo vem
com que cuidado. Nunca
o sentimos -- somente
quando as confusas mãos
tocam a velha palma,
as avencas. Dizias
algo querido, e calas
e vês essas incríveis
formas que disfarçaram
os objetos. Então
um balbuciar de leve,
após vasta carícia,
e total, da penumbra.
De repente consola
estar lá dentro, a salvo
de tudo no costume.
Ancião é o crepúsculo,
tão vaga sua memória,
sua candura, obscura.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Nicolas

um menino na areia
brincando sem saber
como eu
com trinta
escondia
sentimentos
intranquilo comecei
uma brasa
um tempo incendiado
de dias adiados
espumei em letras
marolas de problemas
irados
pela espera imprecisa
também não sabia brincar
na areia da praia
como meu afilhado
Nicolas
mas
ele como eu
terá de aprender

o gosto

o gosto de banana tirada no tempo do pé

encerra uma saudade

saudade

tirada
do pé do gosto de banana do tempo

mangueira

À memória de Bertha Plácido

não há memória
a saudade é apenas um cheiro de lembrança
o amor continua em mim
em nós um árvore demonstra sua idade e
a esperança
espera de andança santa
é que nos faz continuar plantando mudas

surdas recordações não interessam
um som é um barulho de pretérito
um susto contínuo do absurdo que é perdemos quem amamos
as mangas me lembram você
o doce suor de te conhecer em mim

Eliseo Diego, A IGREJA ENTRE AS PALMEIRAS

Porque às vezes a igreja entre as palmeiras, entre as brancas palmeiras,

pequena porém limpa como a secura puríssima da poeira,

faz pensar no estranho nome luminoso povoado,

em como se aconchega à intempérie dos imensos anos

com suas tábuas que rangem no parque deserto, o de ruinosa maravilha,

em torno da igreja que surpreende as antigas palmeiras das Índias,

as taciturnas, solitárias, brancas palmeiras-reais das Índias,

na planura extensa como o tempo, como as fábulas do mundo,

como a noite surpreendida pela pequena vigília da chama.

Eliseo Diego, OS BANHOS

Mas os ressequidos rios não se esquecem do mar nas savanas

e se o silêncio, tão irremediável como a vasta roda imóvel, do céu,

anunciava que sempre ficam para trás as mesmas pameiras

e que tanto dava o norte como o sul, a noite como o este,

as jovens banhistas na entrada acolhedora do povoado

desfraldando as profundas cores que escorrem de seus vestidos,

como na França, eram um sinal tão claro e alegre

como os juncos navegantes para o náufrago.

sórrisos

abismado com o cheio da falta
olho para o teto desejando um céu
qualquer céu
cinza que seja
com um pouco de estrelas

que tristeza sobrevive a um céu estrelado?

a mágoa da ausência exala
o perfume
pequeno frasco
que chamo saudade

uma vida se foi
e ceifou várias
fingimos estar vivos
e até rimos
mas
a
dor é do tamanho
daquele sorriso que nos deixou
e
continuo a sorrir
enquanto choro por dentro
olhando o firmamento

virgens

(...todos já fizeram
e eu ainda não fiz
isso é sincero
isso deve ser um indício...)

de que os cheiros existem e cada um pertence a um nariz

o palhaço de sapatos grandes e pés pequenos gosta do da atriz

o domador sente a leoa implorando carne e desde que não seja a sua fica feliz

o menino com o algodão doce torce pela equilibrista
linda que em seu maiô rosa desequilibra (ávida) a vida do rapaz

e eu tentando lembrar do cheiro doce de seu olhar fico a murmurar pequenas rimas
que formam asas do anjo amor que todo dia me ensina a adormecer-me em sonhos virgens

minoria

contra os homofóbicos

contra os nazistas

contra os racistas

contra os hipócritas...



contra a maioria

segunda-feira, 11 de junho de 2012

natural

numa árvore a altura não é importante

importa saber a quantidade de nós que ela tem no seu corpo inerte de vida natural

natureza das coisas

(maior
humildade humana
deixar-se envelhecer...)

a dor de perder as folhas
o sabor de dar frutos
o apodrecimento de raízes

(um amor profundo
pela natureza das coisas...)

Eliseo Diego -- PELOS ESTRANHOS POVOADOS

1.
Vamos passear pelos estranhos povoados
ungidos com a sombra leve dos jasmins
e o perfume da noite como recordação.

Iremos devagar entre os armazéns de sua vida,
os de envelhecidas telhas sonhando com o ar,
as meditadas nuvens, as pombas escuras e tranquilas.

Quem disse, a tarde vem de repente como a tristeza
quando invade o peito do homem como um antigo hino
assim a tarde crescia em suas igrejas.

Caminho desolado, tu, o que cruza as sombrias
e gigantescas árvores, apressa um pouco o passo, pois o campo
a essa hora traz seus medos, suas criaturas de queixa.
nunca viram o mar neste povoado.

2.
Nunca viram o mar, aqui é a noite
de flancos espinhosos e fatais
e o aroma profundo da estiagem.

Os biombos escondidos, as moradas
olham sozinhas a penumbra antiga
e na penumbra o jarro de florões murchos.

E a acre fumaça silenciosa chega
enredando-se ágil pelas vigas
do alpendre que sereno os aconchega.

Mais para lá das tábuas das bananeiras,
bem do outro lado sólido da terra,
espera a noite desvelada e pura.

A fumaça da casa, é só o que viram.

3.
Mais distantes às vezes que as augustas árvores,
frescos da penumbra que reúnem as águas
em seus parques ocultos, são os povoados.

Dos sedentos muros militares, erguidos
na margem misteriosa do campo, trêmulo
de uma secura antiga e verde marejada.

Quanta inquietude dava sempre
a silenciosa praia da intempérie
onde termina, tão lento, o povoado ermo.
Sumaumeira distante, barco, desabitada, livre,
roçada pelas nuvens com difícil espuma,
te despojas do tempo como de um traje usado.

Entretanto escutamos as profecias das águas
feitas por velhas espanholas mágicas
e temos medo da noite, sua corcunda de púrpura e sua marulhada.

Vamos passear pelos estranhos povoados.

domingo, 10 de junho de 2012

fartos fantasmas

eram cabeças sem corpos
e corpos sem coração
riam para espelhos imaginários
imaginando algo em torno do nada
e o nada os acudia tentando salvar aparências carnavalescas
o vento frio carregado da emoção de cinzas escapadas
se encarregava de carregar salivas de fantasmas
coisas amarradas aos postes da sofreguidão que estavam balançando
sem ter motivo de balançar
a música que se ouvia insistia em nos deixar apaziguados
apesar dos estragos iniciados por aqueles desalmados fartos de sua inadequação

Eliseo Diego, Prólogo do livro Pelos estranhos povoados

Foi escrito este livro para minha Mãe, e para meus filhos, Constante Alejandro, Eliseo e Josefina. Aos quais eu gostaria de dizer logo como sucedeu que, por ter vontade de o ler, e não o encontrando, assim completo e pronto, por mais que o procurasse em muitos lugares diferentes, decidi finalmente escrevê-lo eu próprio. E acabei por concluir que haverá outras razões mais graves para fazer um livro, nenhuma porém mais legítima.

E uma vez escrito, e não achando uma razão suficiente para publicá-lo -- sendo, em relação aos outros, tão arriscada a que me levou a escrevê-lo -- e desejando justamente pôr estas palavras na primeira página; pensei que talvez poderia ser útil, não a meus filhos, que para eles foi escrito, mas a qualquer outro jovem que agora nem sei quem é. Foi o que pensei, sabendo que um livro anterior serviu a quem era então um menino, ou um pouco mais, e hoje é para mim um amigo e um poeta que o tempo engrandece. Porque sobre isso já não tenho dúvidas: ou um livro é útil ou não vale a pena, e quando dizemos que não serve -- pode haver algo mais tremendo? -- já dissemos tudo.

E para que serve um livro de poemas?, perguntariam agora, obedientes, os meus filhos. Servirá para atender, eu lhes responderia. Mestres maiores lhes dirão, com palavras mais nobres e mais belas, o que é poesia; baste-lhes, entretanto, se lhes revelo que, para mim, é o ato de atender em toda a sua pureza. Sirvam então os poemas para nos ajudar a atender como nos ajudam o silêncio ou a ternura.

Não é por acaso que nascemos num lugar e não em outro, senão para dar testemunho. Ao que Deus me deu de herança, creio que atendi tão intensamente quanto pude; às cores e sombras da minha pátria; aos costumes de suas famílias; à maneira com que se dizem das coisas; e as próprias coisas -- às vezes obscuras e leves às vezes. Comigo se vão acabar estas formas de ver, de escutar, de sorrir, porque são únicas em cada homem; e como nenhuma de nossas obras é eterna, nem sequer perfeita, sei que lhes deixo quando muito um aviso, um convite para que estejam atentos. Para estar, melhor do que nunca estive, no que Deus nos deu de herança.

sábado, 9 de junho de 2012

fundo de gaveta

...era um poema tão lindo
que lá pelo meio se diferenciava dos outros
falava de belas tardes apertadas
entre tias e avós
e tinha um cheiro de doce de coco danado
um poema delicado como os abraços que o menino levava
em seu modo pequeno e quente
o destaque não eram as palavras escolhidas e sim o tom emocionado que o poeta conseguira...
mas esquecido que estava de quase tudo
ele esqueceu o poema que se perdeu entre tantas preocupações que o consumiam numa tarde fria de domingo
sem ter o que fazer, por não se lembrar, resolveu relatar como uma pequena joia acaba esquecida num fundo de gaveta da alma

o cão e o menino

melhor
do que ser pai
ou mãe
é ser cachorro de menino
o dia inteiro de colo
amor balançado
um rabo que não para quieto
alimento da alma do menino
o cão é só lambida e bagunça
o menino é só saliva e lembranças
do amor bola-de-pelo que ele cuidava

Eliseo Diego, poeta cubano

Meu nome é Eliseo Diego. Sou, de ofício, poeta, ou seja: um pobre diabo a quem não há outro remédio que escrever linhas curtas a que chamam versos. E o faço não por vaidade ou por desejo de brilhar, ou sei lá, senão por necessidade, porque não me resta outro remédio que escrever estas coisas que se chamam poemas.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

pedaço

A Anna Paula Carvalho

cada palavra
foi
é
ou
será uma lágrima
da verdade
nada plástica
nada plácida
dessa vida
cada palavra
é um pedaço de amor
que me restou

paz de Cristo

não é da infância que sinto saudades
sinto saudade das tardes
desocupadas
da praia com os peixes tentando escapar das redes dos pescadores
dos pecadores que a paz de Cristo tentava salvar
das flores caídas que catava, pois tinha tempo...

Ah! Sim! Sinto saudades do tempo...

quinta-feira, 7 de junho de 2012

atrito

a necessidade de escrever é a necessidade de viver estive parado uns dias e senti a preguiça que dá quando não há motivos realizar ideias

uma vida sem atrito é uma vida sem livros

contrastes

a morte
é o sal
de uma vida de contrastes
doce tentativa absurda
por vezes
malícia apetitosa de bobagens
sem sal nunca nos moveríamos na doce ilusão de realizar
uma lagoa seria mar
um assobio um grito
um respiro um enfarte

picanha

motivo da vida
a morte
nos dá a essência da vida
se podemos atacá-la
como a uma picanha num churrasco
por que ficar de braços cruzados esperandio o nada
que virá?

quarta-feira, 6 de junho de 2012

solitude

as horas passam mas não são sentidas
a infância afastada ainda não foi perdida
e a guerra com o espelho impede os cabelos grisalhos de se acomodarem
na cabeça cheia de enganos
os anos são tantos e tanto ficou para trás
acompanhado seguia o ritmo pesado do tempo
com uma leveza de ser carregado
olhos de espanto demonstram que tudo
acabou
como tudo sempre acaba
acabando com a ilusão dos sonhos
que ainda suportamos

vazias e tardias

em desespero
olhos procuram
corpos
procuram mas têm medo de achar
outros olhos tão vazios
pelo esforço de não parar
de chorar
suas vazias sensações tardias
de encontro

comprimidos

Para quê florestas
num mundo coberto de cinzas?
Para quê sorrisos
se podemos cativar suicídios?
Para quê amigos
se sozinhos somos melhores com nossas certezas radiofônicas?
Para quê carinho
se nos entupimos de comprimidos pequenos e coloridos que nos dão a exata sensação de lassidão?

Cézanne 4

Assim, entre os grandes da pintura, Cézanne pode ser considerado um místico, porque a lição que nos dá com a sua arte é esta: ele vê as coisas não como tais, mas pela sua relação direta com a pintura, isto é, com a expressão concreta da sua beleza. É um contemplativo, olha esteticamente, não objetivamente; exprime-se pela sensibilidade, ou seja, pela percepção instintiva e sentimental das relações e dos acordos. E porque a sua obra confina assim com a música, pode repetir-se, indiscutivelmente, que ele é místico, sendo este último meio o supremo, o do céu. Toda a arte que se musicaliza está a caminho da perfeição absoluta. Na linguagem torna-se poesia, na pintura torna-se beleza.

terça-feira, 5 de junho de 2012

(i) limitado

o que se é
não é importante
importante é o que se deseja ser

o poeta é o ser humano que é
mas escreve sendo o ser humano que deseja ser

ser divinamente humano, esse o objetivo sem limite

(in) terior

o solitário
procura olhos de amor
procura lábios de amor
procura o amor em exóticos lugares lunares
quando o amor não está no exterior

Cézanne, modulação 3

A separação entre desenho e cor, de que Cézanne foi acusado, não é, pois, válida. "À medida que se vai pintando, vais-se também desenhando", diz ele. Ou ainda:"Quando a cor atinge a sua riqueza máxima, a forma alcança a sua plenitude." Com tais frases, incompreensíveis à primeira vista, Cézanne está a pensar no método pictórico das modulações, a aposição paciente e a disposição das manchas de cor, até obter uma estrutura coerente em que a forma, a cor, o espaço, a superfície e a luz são expressos a partir de um único meio pictórico: a cor. É pelas cores que a concepção que Cézanne tem da natureza se transforma, simultaneamente, neste estado sólido e fluido, que representa o equilíbrio entre uma criação, que se transforma e varia e o seu suporte imutável e geologicamente determinado. "Por vezes, imagino as cores como grandes entidades numerais, ideias vivas, seres da razão pura, com os quais poderíamos ter contatos. A natureza não está à superfície, existe em profundidade. As cores são, à superfície, a expressão desta profundidade, remontam às raízes do mundo, são a vida, a vida das ideias".

Cézanne, modulação 2

Com sua concepção analógica da cor e da música, Cézanne não constituía uma exceção no final do século XIX. A correspondência entre música e pintura era uma das maiores convicções dos simbolistas e culminava na arte abstrata então em voga, em que a livre disposição da cor -- à semelhança da música -- seja ela construtiva ou com movimernto rítmico, era sentida como uma nova liberdade da criação artística. Mallarmé tinha infirngido as regras da poesia, abolindo a pontuação, o uso de tipos diferentes e de palavras colocadas com uma disposição rítmica livre que, como uma sensação musical, penetram nas camadas profundas da consciência humana, sem nunca poderem ser captadas de uma forma inteiramente racional. Não se conhecem relações estreitas entre Cézanne e o círculo de poetas simbolistas, embora ele deva ter conhecido Mallarmé e Huysmans, quando era convidado por Monet, em Giverny,. Seja como for, existe um parentesco espiritual entre Cézanne e o simbolismo literário, que deixou vestígios na sua obra.

TRUQUES (música)








REFRÃO



sei quem sou

por isso posso querer X 4

sem nunca esquecer

dos truques...







Não quero

me utilizar

de truques



Não quero copiar

sentimentos antigos



desdigo quem sou x 2

se fizer isso



quero verdade

quero seu fel



quero suor

molhando o papel x 2



REFRÃO



sei quem sou

por isso posso querer

sem nunca esquecer

dos truques...





não quero

me utilizar de subterfúgios



quero subúrbios

com mocotó e feijoada



quero samba no pé

com mulata



quero samba no pé

com feijoada





REFRÃO



sei quem sou

por isso posso querer

sem nunca esquecer

dos truques...





louco satisfaz

o próprio querer

sem nunca esquecer X 2

dos truques







necessários

para manter o amor

escondido no armário

relicário

(Som de disco antigo, fala arranhada).

VERSOS (música)










Não por gostar

de navegar



para me testar X 2





Pela janela

Vejo a vida passar

Sinto medo

Devo confessar



Mas me visto com as roupas

Da coragem

E com lealdade

A quem pretendo ser

Saio pra combater

Todos os meus receios



Zarpo sem rumo

Pelo simples prazer

De

Estar

Enfrentando o mar



Zarpo sem rumo

Pelo simples prazer

De me conhecer



Não por gostar

de navegar



para me testar





Pela janela

Vejo a vida passar

Sinto medo

Devo confessar









Mas me visto com as roupas

Da coragem

E com lealdade

A quem pretendo ser

Saio pra combater

Todos os meus receios



Zarpo sem rumo

Pelo simples prazer

De me conhecer



Não por gostar

de navegar



para me testar X 2









Lálálá

Lálálálállálá X 2





Só para me testar em versos

O alvo (música)






(...) imprevisível

como uma criança

que pinta enquanto dança, enquanto dança



inacessível por ser um míssil, míssil em movimento



eu sou o centro

eu sou o alvo

dessa equação

o resultado X2





REFRÃO

se me encontrar parado

há algo errado

no resultado

na solução dos seus problemas

sou o menor

JAQUES SOM (música)






...João Rafael

Respeita Marco Plácido...





“A cidade não pára

A cidade só cresce

O de cima sobe

o de baixo desce” (Chico Science)









(A) X2

os abafados se jactam em abafar X2



os abafados abafados abafados abafados abafados...





se abafam me abafam se abafam me abafam nos abafam se jactam em abafar X2



abafados abafados abafados abafados abafados abafados



(B)



sua menina eles acham os falantes uns safados retirantes difícil de acreditar X2



difícil de acreditar X2



minha resposta para eles é a seguinte falo mesmo seus ouvintes com Jackson vou ganhar



Com Jackson vou ganhar X2





(Desire, U2)



Com Jackson...

Com Jackson...

Set List do show do dia 10 (domingo)...depois do ensaio de hoje




1 – Little Wing;



2 – Sweet Sina;



3 -- Brigas;



4 – Crazy;



5 -- Jaques Som;



6 – A Saudade e Blues do Medo



7 -- Contra;



8 – O Alvo;



9 – Sim;



10 – Versos;



11 -- Inútil;



12 – Truques;



13 – Papai me empresta o carro;



Bis:



1 – Malandragem;



2 – Minha Alma.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pocket Show -- Marco Plácido Brasileiro

1 – Little Wing;

2 – Sweet Sina;

3 -- Brigas;

4 – Crazy;

5 -- Jaques Som;

6 -- Contra;

7 – O Alvo;

8 – Sim;

9 – Minha Alma

10 -- Versos;

11 -- Inútil;

12 – Truques;

13 – Papai me empresta o carro;

14 – A Saudade e Blues do Medo.

bife

ouvindo Teló
ou Miles Davis
somos os mesmos humanos
que escolhemos ser
somos pedaços de carne de saber
suamos
dificuldades
cortamos pedaços de saudades
e do bife de recordações
podemos engordar ou rir
de tudo que se acabou
ou que ainda está por vir

plantas carnívoras

produtos de outros preconceitos
somos feitos
de partes de várias opiniões
equivocadas
arrumadas por cabeças ultrapassadas
que nos criaram de um jeito categoricamente
rico
porém desajeitado
vário no modo pequeno
tresloucado...
apaixonados por seus, nossos medos
que cultivamos como segredos
seguimos tesos
com nossas certezas radiofônicas

ideia fixa

sempre há perda de essência
sempre a ideia será melhor do que a execução
por mais treinado que estiver o poeta
há o filtro da vida real que no fundo prejudica a genial ideia fixa de vida

mama árvore

aquele verde
daquela planta
nunca será igual a nenhum outro
e me lembrou uma planta
que dizia adorar os verdes
todos diferentes

árvore-menina
que me deu a chance de olhar todos os verdes da vida

jardineiro-poeta

as palavras
despreenidas
vêm crescendo
como ervas
daninhas
e uma hora
se encontram sem saber muito bem seu lugar
cabe ao jardineiro-poeta
ordená-las
ordenhá-las
e retirar de cada verde um significado
(machucado)
tornando possível o verde no asfalto
de prédios sem significados

Cézanne, modulação

(...)
Cézanne descreve a Gasquet este difícil processo de "realização", desta feliz união entre percepção da natureza e criação artística, com o seu gesto característica: "Não deve haver um único ponto demasiado fraco, um orifício por onde se escape a emoção, a luz e a verdade. Eu domino toda a minha tela, ao mesmo tempo, globalmnete. Aproximo, com o mesmo impulso, com a mesma fé, tudo o que se dispersa. A natureza é sempre a mesma, mas nada resta dela, daquilo que nos aparece. A nossa arte deve provocar o calafrio da sua realidade, com os elementos e com a aparência de todas as transformações. A arte deve fazer-nos gostar dela eternamente. Se o mínimo elemento intelectual se mistura com ela, perde-se o "processo transformador", com o Cézanne chama essa conversõa de dados visuais em criação plástica.
A arte é uma harmonia paralela à natureza, diz Cézanne. O pintor deve limitar-se a copiar a natureza; deve interpretá-la, sem se dissociar totalmente de sua contemplação. Para Cézanne, o artista é semelhante a uma "placa sensível à luz", que deve banhar nas percepções da natureza. Depois, vêm o processo técnico, a escolha dos elementos, a transformação e a interpretação. Cézanne fala de dois processos simultâneos, de dois textos que devem conseguir sobrepor-se perfeitamente: "Ele conhece bem a sua língua, o texto que decifra, os dois textos paralelos, a natureza vista, a natureza sentida, a que está ali fora e a que está aqui dentro (batia na testa), ambas têm de se amalgamar, para durar, para viver, a vida da arte... a vida de Deus. A paisagem reflete-se, humaniza-se, é pensada dentro de mim. Eu, objetivo-a, projeto-a, fixo-a na minha tela.

domingo, 3 de junho de 2012

história não contada

a preocupação com o todo
e não com parte
é arte
arte é separar o joio do trigo
fazer sucesso é consequência do início
que tem de ter motivo
(todos querem entender o porquê)
o meio é o recheio da torta de seriedade e compreensão da própria história que produzirá outras histórias tão importantes quanto a da origem tão necessárias quanto aquela primeira que deu frutos tão grandiosa quanto o mundo que gerou tudo
o fim ninguém sabe ninguém viu
(ou melhor ninguém voltou para contar)

iNUsitado

numa carreira que começou fora de qualquer padrão toda ideia padrão é um padrão fora da curva de excelência uma ideia tem de agregar o risco inerente de ser diferente porque o simples fato de ser diferenciada trará à ideia um destaque para o conteúdo inusitado

rum ou ruim

(engraçado, só fui descobrir isso a exatos minutos atrás)

o mesmo tempo de fazer um poema bem feito
pode ser usado para um poema ruim
para tomar rum e dormir
ou para denegrir a imagem de alguém que nem ao menos conhecemos

trata-se de uma escolha que espelha o que pretendemos

solar

...e não há mais nada a dizer...

a não ser que...

por medo de morrer
se mata, se cala, se morre

entupimos nossos poros com inveja, calúnia, difamação
quando poderíamos inventar uma nova emoção

buscar uma estrela
alinhavar um poema
encontrar um novo sistema

solar

sábado, 2 de junho de 2012

cobertor

a natureza é o que é natural no ser humano
quando começamos a destacar qualidades de vida
que estão afastadas do caminho de terra batida
começamos a incorrer no perigo que é
não nos identificarmos com a natureza
e daí em diante
pretendermos nos afastar dela
isso serve também
para não nos identificarmos
como humanos
quando deixamos de
dormir, comer, conversar
para fingirmos que somos
andróides ou qualquer tipo de animal superior
quando no fundo
sabemos onde doi
um fim de noite
sem um cobertor (de orelhas)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

em lembranças

a bondade
no bonde foi embora
para uma rua de paralelepípedos
de Santa Teresa
se escondeu
do mundo de hoje
como uma criança se esconde
da mula-sem-cabeça do saci pererê ou da cuca
tentando sobreviver
em lágrimas
procurou se esfriar
em palavras
tentou traçar um mapa
que a levasse
àquela árvore
que ouvia o avô contar
frondosa natureza
que salvou com sua sombra a humanidade
que a marcava
em lembranças