terça-feira, 5 de junho de 2012

Cézanne, modulação 3

A separação entre desenho e cor, de que Cézanne foi acusado, não é, pois, válida. "À medida que se vai pintando, vais-se também desenhando", diz ele. Ou ainda:"Quando a cor atinge a sua riqueza máxima, a forma alcança a sua plenitude." Com tais frases, incompreensíveis à primeira vista, Cézanne está a pensar no método pictórico das modulações, a aposição paciente e a disposição das manchas de cor, até obter uma estrutura coerente em que a forma, a cor, o espaço, a superfície e a luz são expressos a partir de um único meio pictórico: a cor. É pelas cores que a concepção que Cézanne tem da natureza se transforma, simultaneamente, neste estado sólido e fluido, que representa o equilíbrio entre uma criação, que se transforma e varia e o seu suporte imutável e geologicamente determinado. "Por vezes, imagino as cores como grandes entidades numerais, ideias vivas, seres da razão pura, com os quais poderíamos ter contatos. A natureza não está à superfície, existe em profundidade. As cores são, à superfície, a expressão desta profundidade, remontam às raízes do mundo, são a vida, a vida das ideias".

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