segunda-feira, 11 de junho de 2012

Eliseo Diego -- PELOS ESTRANHOS POVOADOS

1.
Vamos passear pelos estranhos povoados
ungidos com a sombra leve dos jasmins
e o perfume da noite como recordação.

Iremos devagar entre os armazéns de sua vida,
os de envelhecidas telhas sonhando com o ar,
as meditadas nuvens, as pombas escuras e tranquilas.

Quem disse, a tarde vem de repente como a tristeza
quando invade o peito do homem como um antigo hino
assim a tarde crescia em suas igrejas.

Caminho desolado, tu, o que cruza as sombrias
e gigantescas árvores, apressa um pouco o passo, pois o campo
a essa hora traz seus medos, suas criaturas de queixa.
nunca viram o mar neste povoado.

2.
Nunca viram o mar, aqui é a noite
de flancos espinhosos e fatais
e o aroma profundo da estiagem.

Os biombos escondidos, as moradas
olham sozinhas a penumbra antiga
e na penumbra o jarro de florões murchos.

E a acre fumaça silenciosa chega
enredando-se ágil pelas vigas
do alpendre que sereno os aconchega.

Mais para lá das tábuas das bananeiras,
bem do outro lado sólido da terra,
espera a noite desvelada e pura.

A fumaça da casa, é só o que viram.

3.
Mais distantes às vezes que as augustas árvores,
frescos da penumbra que reúnem as águas
em seus parques ocultos, são os povoados.

Dos sedentos muros militares, erguidos
na margem misteriosa do campo, trêmulo
de uma secura antiga e verde marejada.

Quanta inquietude dava sempre
a silenciosa praia da intempérie
onde termina, tão lento, o povoado ermo.
Sumaumeira distante, barco, desabitada, livre,
roçada pelas nuvens com difícil espuma,
te despojas do tempo como de um traje usado.

Entretanto escutamos as profecias das águas
feitas por velhas espanholas mágicas
e temos medo da noite, sua corcunda de púrpura e sua marulhada.

Vamos passear pelos estranhos povoados.

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