MUITAS VOZES
Meu
poema
é
um tumulto:
a fala
que
nele fala
outras
vozes
arrasta
em alarido.
(estamos
todos nós
cheios
de vozes
que
o mais das vezes
mal
cabem em nossa voz
se
dizes pêra,
acende-se
um clarão
um
rastilho
de
tardes e açúcares
ou
se
azul disseres,
pode
ser que se agite
o Egeu
em
tuas glândulas)
A
água que ouviste
num soneto de Rilke
os
ínfimos
rumores
do capim
o sabor
do hortelã
(essa
alegria
A
boca fria
da moça
o maruim
na
poça
a
hemorragia
da manhã
tudo isso em ti
se
deposita
e cala.
Até
que de repente
Um
susto
Ou uma ventania
(que
o poema dispara)
Chama
Esses
fósseis à fala.
Meu
poema
é
um tumulto, um alarido:
basta
apurar o ouvido
Ferreira
Gullar
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