terça-feira, 1 de julho de 2014

Ferreira Gullar, DESASTRE



DESASTRE

Há quem pretenda
      que seu poema seja
      mármore
      ou cristal – o meu
o queria pêssego
             pêra
          banana apodrecendo num prato
e se possível
numa varanda
onde pessoas trabalhem e falem
e donde se ouça
                       o barulho da rua.


             Ah quem me dera
             O poema podre!

a polpa fendida
            exposto
o avesso da voz
                      minando
               no prato
o licor a química
              das sílabas
                              desintegrando-se o cadáver
das metáforas
um poema
como um desastre em curso    


Ferreira Gullar

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