ARTE POÉTICA
Não
quero morrer não quero
apodrecer
no poema
Que
o cadáver de minhas tardes
não
venha feder em tua manhã feliz
e o lume
que
tua boca acenda acaso das palavras
--
ainda que nascido da morte –
some-se
aos outros fogos do dia
aos
barulhos da casa e da avenida
no presente veloz
Nada
que se pareça
a
pássaro empalhado múmia
de
flor
dentro
do livro
e o que da noite volte
volte
em chamas
ou em chaga
vertiginosamente como o jasmim
que
num lampejo só
ilumina
a cidade inteira
Ferreira
Gullar
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